A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

CIMEIRA DE COPENHAGA




Começou hoje e termina no dia 18 a cimeira na qual o Mundo vai procurar um consenso para reduzir emissões com efeito no clima após 2012, quando cessa o compromisso de Quioto. Evidentemente que não vai ser fácil, terá de ser partida muita pedra sobre a mesa das negociações. Em Copenhaga estão reunidos representantes técnicos e políticos de 192 países, tendo como objectivo prioritário estabelecer plataformas de responsabilidades mútuas para deixar subir pouco, e depois diminuir mesmo, as emissões dos gases com efeito de estufa (GEE), os maus da fita, são: o óxido nitroso, o metano e o mais famoso de todos, o dióxido de carbono.
Ao aumento da concentração desses gases na atmosfera por acção humana é imputado o aumento médio da temperatura global, a um ritmo e intensidade que o planeta só suportará à custa de grandes alterações de todo o clima e dos sistemas vivos que dele dependem. O dedo da Humanidade está aqui impresso, diz em uníssono a comunidade científica.
Há cerca de duas décadas que a questão começou relutantemente a ser assumida pelos governantes, após o protagonismo encetado por movimentos ambientalistas, depois de estudos científicos múltiplos. A chancela das Nações Unidas às questões climáticas viria, depois, pôr na agenda internacional a emergência de os países acordarem acções destinadas a conter o aumento das temperaturas. As emissões de GEE, sobretudo da indústria e transportes, passaram a estar no centro da procura de compromissos. Mas também outras acções com impacto na atmosfera e restantes sistemas da Terra, como a desflorestação. Os problemas são vários, esperemos que neste período de tempo seja possível atingir os consensos necessários, para que depois do dia 18, o mundo possa ser visto de uma forma mais positiva.

6 comentários:

G I L B E R T O disse...

Manuela, oh Manuela!

Agradeces-me por eu vir aqui, como poder ser isso?

Eu o venho por meu completo interesse, pois sei que em toda a visita vou beber um pouco de encantamento, vou me fazer uma pessoa melhor ao dar de frente com teus engajamentos sociais e ecológicos sempre tão vanguardistas e necessários, vou sair mais inteligente - porque és tão inteligente, minha amiga, e eu admiro pessoas inteligentes.

Então, por gentileza, não agradeças-me, deixa que eu o faça!

Agradeço, Manuela! Por fazer de nós todos que aqui visitamos pessoas melhores toda vez que pisamos este encantador chão virtual que criastes!

Nada mais!
Nada menos!

Gratidão pura e em maciças quantidades!

Chá das Cinco disse...

Trago biscoitinhos e um bom chá de
anis frances...venha! O chá está pelando, puxe cadeiras para nós, hoje a conversa promete rs


Como diziamos...

Tivemos tanto tempo para salvar o planeta, será que ele ainda tem salvação?
Não sei se poderemos recuperar tantos anos de irresponsabilidade.
Vamos tentar né?


Bjs Manu
da tua amiga Gê

Luísa disse...

Boa sorte para a Cimeira é o mesmo que desejar boa sorte para o planeta!
Beijinho terno

Cris França disse...

ontem a noite eu vi uma chamada na TV, sobre a Cimeira e creio que poucas pessoas se deem conta da importãncia desse tema minha amiga, infelizmente.
O mundo dará ao homem o destinos que ele mesmo escrever, mas quem está escrevendo o destino? quem coordena a ação dos homens? um proposta de redução de poluentes de 17% em 10 anos, é quase ridícula para mim, mas infelizmento por aqui ainda vivemos na política do pão e circo.
Beijo pra vc e luz sobre esse evento.

Rolando Palma disse...

Todos os dias, o mesmo flagelo, a mesma rotina, o mesmo desespero.
O que comer?
A terra continuava seca. Seca e estéril como as pedras, sem erva, sem alimento, sem água.
A grande planície de El Fasher, no extremo ocidental do país, sempre fora o lar ancestral dos Fur, uma das quatro etnias de um dos países mais áridos de Africa, o Sudão. Os Shatt, os Tama e os Zaghawa, mais numerosos, há muito que se haviam espalhado pelos territórios vizinhos, instalando-se até em países vizinhos, como o Chade, a Líbia e até o Egipto.
Os Fur, mais ciosos dos seus costumes e tradições, mantinham-se na grande planicie, sobrevivendo às atrocidades de Darfur, tentando sobreviver nas pequenas aldeias, de paredes de barro e tectos de ramos secos.
Sobreviver.
Há quanto tempo não caía dos céus uma gota de água? Um ano? Talvez mais.

Mordebe conhecia bem as suas tarefas diárias. Aos sete anos, podia dar-se por muito feliz por estar vivo, não padecer de nenhuma doença grave e, principalmente, não ser orfão. Eram estas as prioridades para qualquer criança Fur, sabendo já de antemão que adoecer era o prenúncio da morte, sem médicos, nem hospitais nem farmácias num raio de muitas centenas de quilómetros.
O dia de Mordebe começava bem cedo, por volta das cinco da manhã, quando os primeiros raios de sol desciam sobre a aldeia. A mãe, Nyala, agitava as brasas e despejava sobre as malgas de barro uma mistura pastosa de sabor azedo, misturando sementes moídas e folhas verdes; a água era pouca e não podia ser desperdiçada.
A temperatura subia rapidamente para os 40, 41 ou 42º - mesmo assim, sempre um pouco menos que em Albara, mais ao norte, onde atingia frequentemente os 46 e 47º - um autêntico inferno, à sombra.
Depois da parca refeição, era tempo da recolha.
Mordebe, o irmão mais velho e o filho dos vizinhos, Fashin, dirigiam-se ao extremo sul da aldeia e, a partir daí, percorriam agachados os campos secos, de malga de barro na mão, à procura de sementes – sementes deixadas cair pelos pássaros, arrastadas pelo vento, desenterradas por acaso. Tudo servia, desde que fosse comestível.
De quando em quando, pequenos arbustos eriçados de espinhos brotavam de entre as rochas. As poucas árvores que ainda sobreviviam, erguiam-se como fantasmas nus de folhas, agitando os ramos vazios ao vento, à procura de uma brisa mais fresca.
Assim passariam toda a manhã, até o sol atingir o ponto mais alto. Depois, voltariam a casa, Nyala tentaria cozinhar algo com que pudessem enganar a fome por mais umas horas e logo voltariam ao campo, para procurar novamente mais alguns grãos.
No semana anterior, Fashin perdera o irmão mais novo, de doença.
Caminhavam em silêncio, atentos às pedras e raízes, em busca das sementes que poderiam significar a diferença entre a vida e a morte, abandonados aos seus próprios pensamentos, quebrados pelo inevitável fardo de lutar... para sobreviver.
O céu, habitualmente azul escuro e sem nuvens, ostentava um cinzento pesado de chumbo.
Mordebe sentou-se um pouco, interrompendo a busca incessante de sementes. Os joelhos doíam-lhe horrivelmente e as costas, vergadas à posição habitual, teimavam em não conseguir uma postura correcta.
(continua... )

Rolando Palma disse...

Olhou para cima e na sua imaginação, as nuvens brancas formaram figuras fantasmagóricas, destacando-se sobre o fundo escuro do céu. Uma delas, em particular, assemelhava-se bastante a um rosto humano, sorridente e afectuoso.
Mordebe sorriu-lhe, e a nuvem pareceu devolver-lhe o sorriso.
Ao longe, um clarão de fogo sulcou os céus.

Mordebe fechou os olhos. Algo lhe caíra sobre a testa.
Abriu a boca.
Primeiro uma gota, depois outra... e ainda mais outra, gotas grossas de água refrescante, e em breve o céu se despejou sobre a terra árida, vertendo com violência toda a água armazenada durante a seca de tantos e tantos meses.
Mordebe permaneceu sentado, de boca aberta, sorvendo com sofreguidão os pingos grossos que lhe escorriam pela cara. Colocou as mãos em concha sobre a boca e ali ficou, a beber água, como se de repente o paraíso tivesse descido à terra sob a forma de pequenas gotas cristalinas.

O rosto humano, sorridente e afectuoso, que Mordebe vira nas nuvens, já se dissolvera noutras formas. Mas a chuva continuava a cair, sob a forma de um quase milagre, sobre a planície ressequida de El Fasher.

Mordebe permaneceu sentado, de boca aberta às gotas da chuva, durante muito tempo.
O futuro era incerto.
Não sabia quando voltaria a chover.