CASA DE SEZIM (PERTO DE GUIMARÃES)
Conforme um pergaminho
existente no arquivo da casa, o imóvel entrou para a família dos actuais
proprietários em 1376, por doação que Maria Mendes Serrazinha fez a Afonso
Martins, descendente de D. João Freitas (companheiro de D. Afonso Henriques),
em atenção "às boas obras que dele recebeu e espera receber e por crença
que lhe fez".
D.Antónia Genoveva da
Silva Souto e Freitas (1773-1802) filha de um rico comerciante, no Brasil, de
Tabaco e Engenhos de Açúcar, herdou a Casa de Sezim e casou-se com José de
Freitas do Amaral (1748-1813). Deixaram a casa ao filho Manuel Freitas do
Amaral (1797-1856) por ser o filho varão. E foi Manuel que continuou as
obras de restauro, novas construções como a Capela e o Portal de entrada, e sua
decoração de interiores, iniciadas pelo pai.
A beleza da Casa, a
harmonia das suas linhas, a monumentalidade da sua fachada e a colecção de
papéis panorâmicos da primeira metade do século XIX que abriga nos seus salões,
têm sido, nos últimos anos, motivo de curiosidade internacional.
Sobre o portão de
entrada pode-se ver um brasão com as armas dos Freitas do Amaral. O interior,
com paredes revestidas a papel de parede com estampas muito raras, são invulgares e
de beleza única. Foram produzidos pela Manufactura Zuber & Cia- Rixheim-
Alsácia - França, criadas por Jean Zuber (1773-1852), foram aplicados na casa
em 1834- 1840, sob as ordens do pintor Auguste Roquemont, criador do projecto de
decoração da casa. Tudo indica que será de Auguste Roquemont a pintura "
As aventuras de D. Quixote" em uma das salas. A casa alberga alguns móveis
do século XVII.
O solar foi herdado
pelo ex- embaixador Pinto de Mesquita, que com a mulher têm conservado e
explorado as mais valias da propriedade, entre outras criando uma marca própria
de vinho verde e disponibilizando uma parte da casa para alojamento turístico.
Augusto Roquemont,
filho de Frederico Augusto de Hesse-Darmstadt, nasceu em Genebra.
Estudou em Paris num
colégio interno e, entre 1818 e 1827, realizou a sua formação artística nas
cidades italianas de Roma, Bolonha, Florença e Veneza. Foi-lhe atribuído o 1.º
prémio numa prova de exame na Academia de Belas Artes de Veneza (1820).
O seu pai, que servira
em vários exércitos europeus e veio a apoiar a causa de D. Miguel,
encontrava-se em Braga no verão de 1828, marcando presença em paradas
militares, quando chamou o filho para junto de si. Roquemont embarcou em Génova
em 1828.
Encantado com o país e
as suas gentes, Roquemont fixou-se no norte de Portugal. Esteve hospedado em
Guimarães, na casa do miguelista conde de Azenha. Fez algumas estadias pontuais
em Lisboa e, a partir de 1847, fixou residência no Porto.
Nesta cidade foi mestre
dos pintores João António Correia e Francisco José Resende. Ocupou o cargo de
director da Aula de Desenho da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do
Porto. Com um ordenado anual de 600 réis terá exercido funções entre Abril e Julho de 1832, mês em que abandonou a cidade, com a chegada das tropas liberais.
Depois do triunfo
liberal, Roquemont refugiou-se em Guimarães, dedicando-se à produção de
retratos particulares e de miniaturas, de projectos de arquitetura e decorações
de igrejas, e a pintar bandeiras de irmandades.
Além da técnica da
pintura a óleo, usada nos seus famosos retratos da nobreza e da alta burguesia
nortenhas e nos costumes populares, também produziu trabalhos a lápis, carvão e
esfuminho e fez retrato-miniatura.
Ensinou outros artistas
como António José de Sousa Azevedo (1830-1864) e Caetano Moreira da Costa Lima
(1835-1898) e marcou fortemente a primeira geração de pintores românticos
portugueses, sobretudo Tomás da Anunciação (1818-1879). A sua obra está representada no Museu
Nacional de Soares dos Reis, no Porto, no Museu Grão Vasco, em Viseu, e na
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, em Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário