A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




domingo, 25 de março de 2018

MARIA DA FONTE


Maria da Fonte, ou Revolta do Minho, é o nome dado a uma revolta popular ocorrida em 1846 contra o governo cartista presidido por António Bernardo da Costa Cabral. A revolta resultou das tensões sociais remanescentes das guerras liberais, exacerbadas pelo grande descontentamento popular gerado pelas novas leis de recrutamento militar que se lhe seguiram, por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.

 Quem era Maria da Fonte? Há várias versões.


Depois de múltiplos incidentes e arruaças isoladas, ocorridos um pouco por todo o país, mas com maior relevo no norte, o gatilho da revolta foi um acontecimento banal: a morte, em 1846, da idosa Custódia Teresa, habitante do lugar de Simães na freguesia de Fontarcada, nos arredores da Póvoa de Lanhoso.

Um grupo de vizinhos, onde predominavam mulheres, decidiu proceder ao enterramento da defunta na Igreja do Mosteiro de Fonte Arcada, sem autorização da Junta de Saúde, as autoridades decidiram intervir. A dureza da intervenção foi grande.
Maria da Fonte (Roque Gameiro, Quadros da História de Portugal, 1917
No enterramento de Custódia Teresa, o povo não permitiu que o comissário de saúde viesse atestar o óbito, tendo-o espancado. O enterro terá sido mesmo feito sem acompanhamento religioso, por o pároco ter recusado participar no desacato, embora o povo alegasse que o fazia por razões religiosas, pois que se o corpo fosse enterrado fora da igreja, noutro chão qualquer que não o do templo, o morto estaria desprotegido.

Talvez por considerarem menos provável que as autoridades agissem de forma violenta contra mulheres, estas ter tido papel preponderante.

Perante os factos, as autoridades resolveram prender as cabecilhas da revolta e proceder à exumação do cadáver e à sua sepultura no terreno destinado a cemitério. Foram recebidos pela população armada com foices, chuços e varapaus. Sem poderem exumar o cadáver, procederam à prisão de quatro mulheres que foram consideradas cabecilhas dos incidentes dos dias anteriores: Joaquina Carneira, Maria Custódia Milagreta, Maria da Mota e Maria Vidas.

Quando as presas iam ser ouvidas pelo juiz, os sinos tocaram a rebate, reunindo o povo, que marchou até à vila para arrombar com machados as portas da cadeia. À frente deste grupo, estavam algumas jovens, entre elas, vestida de vermelho, Maria Angelina, a qual terá sido a primeira a acometer à machadada a porta da cadeia.

As autoridades procuravam identificar os insurrectos e a jovem Maria Angelina, foi colocada no topo da lista. Como os circunstantes se recusavam a identificar os amotinados, ficou registada simplesmente por Maria da Fonte Arcada, depois abreviado para Maria da Fonte. A Maria Angelina, foi de facto processada e pronunciada nos tumultos da Póvoa de Lanhoso.

Contudo, sobre esta matéria as opiniões divergem, já que nos anos imediatos muitas foram as Marias da Fonte, que apareceram pelo norte de Portugal, reclamando, com maior ou menor justiça, a glória do nome. 

Depois, romantizado pela intelectualidade da época, a Maria da Fonte acabaria por ser transformada no epítome das virtudes guerreiras das mulheres do norte de Portugal, passando a defensora da genuína expressão do desejo de liberdade da alma popular. Afinal, é assim que nascem os mitos.

De qualquer forma, graças a Camilo Castelo Branco, o nome da taberneira Maria Luísa Balaio também recebeu grande atenção e, muitos anos mais tarde, em 1883, o jornal O Comércio de Portugal ainda noticiava que morreu em 1874, na freguesia de Verim, Ana Maria Esteves, natural de Santiago de Oliveira, casada com António Joaquim Lopes da Silva daquela freguesia de Verim e que fora a famigerada Maria da Fonte.

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