Maria da Fonte, ou Revolta do Minho, é o nome dado a uma
revolta popular ocorrida em 1846 contra o governo cartista presidido por
António Bernardo da Costa Cabral. A revolta resultou das tensões sociais
remanescentes das guerras liberais, exacerbadas pelo grande descontentamento
popular gerado pelas novas leis de recrutamento militar que se lhe seguiram,
por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.
Quem era Maria da Fonte? Há várias versões.
Depois de múltiplos incidentes e arruaças isoladas,
ocorridos um pouco por todo o país, mas com maior relevo no norte, o gatilho da
revolta foi um acontecimento banal: a morte, em 1846, da idosa Custódia
Teresa, habitante do lugar de Simães na freguesia de Fontarcada, nos arredores
da Póvoa de Lanhoso.
Um grupo de vizinhos, onde predominavam mulheres, decidiu
proceder ao enterramento da defunta na Igreja do Mosteiro de Fonte Arcada, sem
autorização da Junta de Saúde, as autoridades decidiram intervir. A dureza da
intervenção foi grande.
Maria da Fonte (Roque Gameiro, Quadros da História de Portugal, 1917 |
No enterramento de Custódia Teresa, o povo não permitiu que
o comissário de saúde viesse atestar o óbito, tendo-o espancado. O enterro terá
sido mesmo feito sem acompanhamento religioso, por o pároco ter recusado
participar no desacato, embora o povo alegasse que o fazia por razões
religiosas, pois que se o corpo fosse enterrado fora da igreja, noutro chão
qualquer que não o do templo, o morto estaria desprotegido.
Talvez por considerarem menos provável que as autoridades
agissem de forma violenta contra mulheres, estas ter tido papel
preponderante.
Perante os factos, as autoridades resolveram prender as
cabecilhas da revolta e proceder à exumação do cadáver e à sua sepultura no
terreno destinado a cemitério. Foram recebidos pela população armada com
foices, chuços e varapaus. Sem poderem exumar o cadáver, procederam à prisão de
quatro mulheres que foram consideradas cabecilhas dos incidentes dos dias
anteriores: Joaquina Carneira, Maria Custódia Milagreta, Maria da Mota e Maria
Vidas.
Quando as presas iam ser ouvidas pelo juiz, os sinos tocaram
a rebate, reunindo o povo, que marchou até à vila para arrombar com machados as
portas da cadeia. À frente deste grupo, estavam algumas jovens, entre elas, vestida
de vermelho, Maria Angelina, a qual terá sido a primeira a acometer à machadada
a porta da cadeia.
As autoridades procuravam identificar os
insurrectos e a jovem Maria Angelina, foi colocada no topo da lista. Como os
circunstantes se recusavam a identificar os amotinados, ficou registada
simplesmente por Maria da Fonte Arcada, depois abreviado para Maria da Fonte. A Maria
Angelina, foi de facto processada e pronunciada nos tumultos da Póvoa de
Lanhoso.
Contudo, sobre esta matéria as opiniões divergem, já que nos
anos imediatos muitas foram as Marias da Fonte, que apareceram pelo norte de
Portugal, reclamando, com maior ou menor justiça, a glória do nome.
Depois, romantizado pela intelectualidade da época, a Maria
da Fonte acabaria por ser transformada no epítome das virtudes guerreiras das
mulheres do norte de Portugal, passando a defensora da genuína expressão do
desejo de liberdade da alma popular. Afinal, é assim que nascem os mitos.
De qualquer forma, graças a Camilo Castelo Branco, o nome da
taberneira Maria Luísa Balaio também recebeu grande atenção e, muitos anos mais
tarde, em 1883, o jornal O Comércio de Portugal ainda noticiava que morreu em
1874, na freguesia de Verim, Ana Maria Esteves, natural de Santiago de
Oliveira, casada com António Joaquim Lopes da Silva daquela freguesia de Verim
e que fora a famigerada Maria da Fonte.
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