Camilo
de Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 — Macau, 1 de Março de
1926), poeta. É considerado o expoente máximo do simbolismo em língua
portuguesa.
FLORIRAM
POR ENGANO AS ROSAS BRAVAS
Floriram
por engano as rosas bravas
No
inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em
que cismas, meu bem? Porque me calas
As
vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos
doidos! Tão cedo caístes!...
Onde
vamos, alheio o pensamento,
De
mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram
nos meus, como vão tristes!
E
sobre nós cai nupcial a neve,
Surda,
em triunfo, pétalas, de leve
Juncando
o chão, na acrópole de gelos...
Em
redor do teu vulto é como um véu!
Quem
as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre
nós dois, sobre os nossos cabelos?
Camilo
Pessanha, in 'Clepsidra'
Manuel
Laranjeira (Mozelos, 17 de Agosto de 1877 - Espinho, 22 de Fevereiro de 1912),
médico e escritor. Autor de teatro, ficção, ensaios, conferências, poesia e
estudos sobre política, filosofia.
VENDO
A MORTE
Em
tudo vejo a morte! e, assim, ao ver
que
a vida já vem morta cruelmente
logo
ao surgir, começo a compreender
como
a vida se vive inutilmente...
Debalde
(como um náufrago que sente,
vendo
a morte, mais fúria de viver)
estendo
os olhos mais avidamente
e
as mãos prà vida... e ponho-me a morrer.
A
morte! sempre a morte! em tudo a vejo
tudo
ma lembra! e invade-me o desejo
de
viver toda a vida que perdi...
E
não me assusta a morte! Só me assusta
ter
tido tanta fé na vida injusta
...
e não saber sequer pra que a vivi!
Manuel
Laranjeira
Vergílio
António Ferreira (Gouveia, Melo, 28 de janeiro de 1916 — Lisboa, 1 de março de
1996), escritor e professor.
CAI
A CHUVA ABANDONADA
Cai
a chuva abandonada
à
minha melancolia,
a
melancolia do nada
que
é tudo o que em nós se cria.
Memória
estranha de outrora
não
a sei e está presente.
Em
mim por si se demora
e
nada em mim a consente
do
que me fala à razão.
Mas
a razão é limite
do
que tem ocasião
de
negar o que me fite
de
onde é a minha mansão
que
é mansão no sem-limite.
Ao
longe e ao alto é que estou
e
só daí é que sou.
Vergílio
Ferreira, in 'Conta-Corrente 1
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