Uma mulher só em palco, fala ao telefone com o seu (invisível e inaudível) amante perdido. A voz humana é enganadoramente simples - apenas uma actriz em palco durante uma hora, falando ao telefone. Na realidade, está repleto de referências dramáticas às experiências Vox Humana dos dadaístas.
Nenhuma outra obra de Cocteau inspirou tantas criações: a ópera homónima de Francis Poulenc, a ópera buffa de Gian Carlo Menotti, Le Telephone, e a versão em filme de Roberto Rosselini, com Anna Magnani, L'Amore (segmento: Il Miracolo) de 1948. Esta obra tem vindo a atrair um conjunto de grandes actrizes, incluindo Simone Signoret, Ingrid Bergman e Liv Ullmann (em teatro) e Julia Migenes (em ópera).
O
que?…………………………. Oh! sim, mil vezes melhor. Se não tivesses telefonado
morreria………………………… Não……………………… espera…………………………….. espera………………………………
encontremos uma saída…………………………… Perdoa-me. Eu sei que é uma cena intolerável,
e muita paciência tens tu, mas compreende-me, querido; sofro, sofro como nunca.
Este fio é a única coisa que me liga ainda à nossa vida………………………….. Anteontem à
noite? Dormi. Deitei-me com o telefone……………………… Não, não. Levei-o para a
cama………………. Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama é porque
ele, apesar de tudo, nos une ainda. Liga esta casa à tua casa e não te esqueças
que me tinhas prometido falar. Imagina que mergulhei numa confusão de sonhos. A
tua chamada transformava a campainha do telefone num som mortal e eu caía;
depois, vi um pescoço branco que alguém estrangulava; depois ainda, achei-me no
fundo dum mar que se parecia com o apartamento de Auteuil, ligada a ti por um
tubo de escafandro e a suplicar-te que não o cortasses. Enfim, sonhos estúpidos
quando se contam; mas o pior é que durante o sono eram demasiado vivos.
Terrível, meu amor…………………………………………….. Porque tu me falas. Há cinco anos que
vivo de ti, que és o único ar que posso respirar, que levo o tempo à tua
espera, a julgar-te morto quando te demoras, a morrer porque te julgo morto, a
reviver quando entras e te vejo, a morrer com medo de partires. Neste momento,
respiro porque tu me falas. O meu sonho, afinal, não é assim tão falso; se
desligares agora, morrerei afogada naquele mar que parecia o teu
apartamento……………………………………………………………………… De acordo, meu amor; dormi. Dormi porque
era a primeira vez. O médico bem disse: é uma intoxicação. Mal ele sabia… A
primeira noite, dorme-se. O sofrimento distrai, é uma novidade, suportamo-lo. O
que não se suporta é a segunda noite, a de ontem, e a terceira, a de hoje, a
que vai começar dentro de alguns minutos, e amanhã e depois de amanhã, dias
sobre dias, a fazer o que, meu Deus?
5 comentários:
Um drama sempre actual.
Beijinhos e bom fim de semana.
O drama inconfessável que sempre sentimos... ao menos uma vez na vida!
Drama da solidão... Pode passar os tempos e novas ferramentas atuarem em nosso cotidiano que ainda assim, e principalmente em tempos hipermodernos, os medos cresceram e com eles o distanciamento como modo de prevenção ao sofrimento, faz da humanidade seres carentes em busca de reconforto se utilizando de instrumentos para suprir o afeto rompido. O que era para ser de forma evolucionista no amadurecimento humano, saber lidar com os relacionamentos interpessoais.
Saudades de vc moça, bjinhos
Oi, Manu!
A voz humana, com suas possíveis inflexões,carregada de emoções dramáticas, é capaz de levar o espectador numa viagem interior surpreendente... Deve ser um monólogo interessante.
Grande abraço
Socorro Melo
felicitaciones por el post y un saludo!
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