A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




terça-feira, 31 de maio de 2011

5 POEMAS DE FRIEDRICH NIETZSCHE (PARA PEDRO MEIRELES)

A Minha Felicidade


Depois de estar cansado de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento me ter feito frente
Navego com todos os ventos.



O Solitário

Detesto seguir alguém assim como detesto conduzir.
Obedecer? Não! E governar, nunca!
Quem não se mete medo não consegue metê-lo a
ninguém,
E só aquele que o inspira pode comandar.
Já detesto guiar-me a mim próprio!
Gosto, como os animais das florestas e dos mares,
De me perder durante um grande pedaço,
Acocorar-me a sonhar num deserto encantador,
E forçar-me a regressar de longe aos meus penates,
Atrair-me a mim próprio... para mim.


Ecce Homo


Sim, sei de onde venho!
Insatisfeito com a labareda
Ardo para me consumir.
Aquilo em que toco torna-se luz,
Carvão aquilo que abandono:
Sou certamente labareda.


Remédio para o Pessimismo

Queixas-te porque não encontras nada a teu gosto?
São então sempre os teus velhos caprichos
Ouço-te praguejar, gritar e escarrar...
Estou esgotado, o meu coração despedaça-se.
Ouve, meu caro, decide-te livremente.
A engolir um sapinho bem gordinho,
De uma só vez e sem olhar.
É remédio soberano para a dispepsia.

Sabedoria do Mundo

Não fiques em terreno plano.
Não subas muito alto.
O mais belo olhar sobre o mundo
Está a meia encosta.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"
 

domingo, 29 de maio de 2011

SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO...

A obra de Shakespeare, Sonho de Uma Noite de Verão é ambientada na Grécia mítica e conta-nos a história de seres élficos e personagens mitológicos descrevendo a magia e a realidade em uma só dimensão. Comédia de amores desencontrados, onde tudo se resolve após algumas peripécias com uma poção mágica!

Considero Shakespeare um expoente da Cultura.  Muita da sua obra: poemas, tragédias, dramas históricos, comédias, permaneceram vivos até aos nossos dias.


SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO


Que é um dia de Verão não sei se diga.

É mais suave e tens mais formosura:

Vento agreste botões frágeis fustiga

Em Maio e um Verão a prazo dura.

O olho do céu vezes sem conta abrasa,

Outras a tez dourada lhe escurece,

Todo o belo do belo se desfasa,

Por caso ou pelo curso a que obedece

Da Natura, mas teu eterno Verão

Nem murcha, nem te tira teus pertences,

Nem a morte te torna assombração

Quando o tempo em eternas linhas vences:

Enquanto alguém respire ou possa ver

E viva isto e a ti faça viver.

Tradução de Vasco Graça Moura


A Midsummer Night's Dream - Felix Mendelssohn Bartholdy

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O QUE NÃO FALTA É FESTA...

Todos os anos passo por lá, há eventos culturais de todo o género e nada comuns. Esta festa da cultura tem sempre por objectivo contemplar públicos de todas as idades e Serralves é uma óptima referência da cidade.
Também cheia de eventos de vários géneros e em vários locais.
Estou com curiosidade em ir à Noite de Morcegos: "Voar com as mãos e ver com os ouvidos"

Os morcegos são os únicos mamíferos quirópteros, isto é, que voam com as mãos. Existem mais de 1100 espécies de morcegos, nenhuma das quais é cega. No entanto, os microquirópteros orientam-se preferencialmente por ecolocalização. Oficina orientada por Drª. Luzia de Sousa, Conservadora do Museu de História Natural.


A propósito lembrei-me deste poema:


O Morcego
Augusto dos Anjos


Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

Na bruta ardência orgânica dasede,

Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.



"Vou mandar levantar outra parede..."

— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

Circularmente sobre a minha rede!



Pego de um pau. Esforços faço. Chego

A tocá-lo. Minh’alma se concentra.

Que ventre produziu tão feio parto?!



A Consciência Humana é este morcego!

Por mais que a gente faça, à noite ele entra

Imperceptivelmente em nosso quarto!

E DA OPERETA «O MORCEGO» DE STRAUSS



Paralelamente vai decorrendo a festa da Campanha Eleitoral, onde os políticos andam por todos os cantinhos de Portugal a vender a sua «banha de cobra» putrefacta! O lema é «vamos iludir o povinho»! Para defesa da democracia eu vou votar e a única coisa que posso pedir é que votem, vão lá, se estão descontentes, não se abstenham, votem em branco.


A TODOS OS MEUS AMIGOS UM BOM FIM-DE-SEMANA!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

OS CONTOS DE FADA DIZEM MUITO, MAS NUNCA DIZEM TUDO...





Nunca se sabe onde um beijo pode levar. Apesar dos contos de fada insistirem em dar-nos o final feliz, com um beijo. Um hábil modo de dizer muito e não dizer nada. Como todos os contos de Fadas, também A Bela Adormecida está carregada de um universo simbólico. Uma tentativa de fixar, ou melhor «dar nome» às forças da Natureza, às transformações do corpo (e da carne), às forças do instinto, aos sentimentos tão singulares quanto universais. Enfim, àquilo que se repete e que pontua fases da vida e comportamentos. Por esta razão, os contos de fada dizem muito, mas nunca dizem tudo (como poderiam dizer?). Entre outras razões, e em particular na Bela Adormecida, trata-se de ensaiar a fantasia numa realidade que se afasta daquela que normalmente podemos provar: o desejo lançado à contingência. E neste sentido, nem cem anos de sono nos garantem o próximo passo. Talvez nos sintamos mais preparados, mas nunca se sabe onde um beijo pode levar. Em Perrault depois do beijo, mesmo com um final feliz, vem a vingança da mãe do Príncipe por ciúme (o famoso caso edipiano).


Nos irmãos Grimm, depois do beijo a pausa para a fase que se segue: e foram felizes para sempre! Mas mesmo não tendo a certeza onde um beijo nos leva, quem resiste à ideia de um final feliz? Quem não anseia o beijo do príncipe encantado? Que podemos nós contra tudo isto? Literalmente nada porque de um desejo afinal, se trata. A este propósito recordo a frase de Santo Agostinho «ainda não amava e já gostava de amar», que nos projecta para qualquer potencial, isto é, o corpo antecipa o acontecimento.


É aqui que a nossa Bela Adormecida ganha corpo (do e no desejo), às vezes etéreo às vezes apelativo, para imediatamente entrarmos no seu son(h)o, o não-dito.


Por favor não a acordem!




quarta-feira, 25 de maio de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

POEMAS DE MÁRIO CESARINY...

 Para os Lábios que o Homem Faz

Para os Lábios que o Homem Faz
que atraem beijos
ao redor do mundo
ficou na nossa memória
em qualquer parte a qualquer hora
um pedaço
de pão



Promessa
que se cumpre
que alimenta
o mundo



Olhos
a exigir
uma floresta



 
Faz-se Luz
 
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem



Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca



Em Todas as Ruas te Encontro
em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco



Mário Cesariny, in "Pena Capital"




Pinturas de Mário Cesariny de Vasconcelos

segunda-feira, 23 de maio de 2011

SÓ PARA OS ROMÂNTICOS...


Vou enviar-te uma carta

Crónica de: LUISA CASTEL-BRANCO

Não uma mensagem por telemóvel, ou um email. Não, uma carta como se fazia dantes. Vou comprar um selo (quanto custará?), envelope e papel ainda por aí tenho.
É outra coisa, sabes?
Já me vejo a ponderar cada palavra, porque numa carta as palavras têm um peso diferente, uma força muito maior.
Hoje a vida é feita de rapidez, aceleração e tudo é descartável, dos objectos às amizades, e claro o amor. O amor tornou-se tão antigo como as cartas, as que têm selo. A paixão, essa, é actual e constante. Toda a gente tem necessidade de estar apaixonada. E raros são os que conhecem o amor, porque para tal é necessário tempo, empenho, sacrifício e alegria.
O amor passou de moda. Ninguém quer sofrer, ou lutar, ou investir numa relação, ultrapassar os momentos difíceis e acreditar que há um futuro.
Por isso a sociedade anda assim, perdida, desolada, sem sonhos.
É altura de voltar às cartas de amor ou de tristeza, não importa.
Desde que gastemos tempo, carinho e coloquemos dentro do envelope, que fecharemos lambendo lentamente a tira de cola, um pedaço de nós.
Por isso, quando a receberes no teu correio, entre as muitas folhas de publicidade, as contas da casa, a correspondência do Banco, sei que vais olhar com espanto (há quanto tempo não recebes uma carta pessoal, escrita à mão?).
Talvez me respondas de volta. Quem sabe.
Talvez comecemos a trocar correspondência e eu guarde as tuas palavras numa gaveta perfumada, palavras escritas sem pressa, sem outro objectivo que não conversarmos os dois, com o tempo no relógio parado.

sábado, 21 de maio de 2011

MAIS UM SELO=CUMPLICIDADES E AFINIDADES=AMIZADE VIRTUAL


Demorei algum tempo para publicar este Selo , que foi um carinho da Tati, do Blog. http://www.perguntasemresposta.com/, que recomendo pela pessoa extraordinária que é, sempre colocando assuntos de muito interesse e que vive tão intensamente a sua vida em todos os seus quadrantes




As perguntas e as respostas:




01. Pegue o livro mais perto de você, abra na página 18 e encontre a 4ª linha:


 «De, essa «igualdade de todos os homens» predicada como lei»


«Paradoxos do Individualismo» de Victoria Camps catedrática de Ética da Universidade de Barcelona


02. Estique seu braço esquerdo o mais longe que puder. O que você encontra?


O jornal Destak


03. Qual foi a última coisa que assistiu?


Notícias


04. Sem olhar o relógio, que horas você acha que são?


15.00


05. Agora, olhe no relógio. Que horas são?


15.34


06. Sem contar o barulho do computador, o que mais está ouvindo?


Barulho de carros e os gritos do arrumador Bruno


07. Quando foi a última vez que saiu? Onde foi?


De manhã. Ginásio


08. Antes de começar esse questionário, o que estava fazendo?


Lendo blogues


09. O que está vestindo?


Calças e t’shirt


10. Você sonhou a noite passada?


Não me lembro... é muito raro lembrar-me dos sonhos!


11. Quando foi a última vez que você deu risada?


Hoje de manhã


12. O que acha da pessoa que te indicou este desafio?


Excelente ser humano, excelente mãe, excelente mulher de família. Uma pessoa culta e inteligente.


13. Viu alguma coisa esquisita há pouco tempo?


Eu agora vejo muitas coisas esquisitas…são fruto de tempos conturbados que vivemos!


14. Qual foi o último filme que você assistiu?


Missing in America


Um filme do cinema alternativo norte-americano, não foi feito por uma realizador de nomeada, não tem actores muito conhecidos, mas tem um argumento que com simplicidade, mas profundidade fala da vida, das alegrias e das tristezas.


15. Se você se tornasse milionário da noite para o dia, o que compraria?


Tenho sempre muitas coisas no pensamento, mas vão mudando conforme as circunstâncias, relativamente a mim e aos outros.


16. Uma coisa sobre você que eu não saiba.


Pouco sei de mim…continuo a analisar-me e sempre faço descobertas que me surpreendem!


17. Seu estado de espírito agora.


Serenidade


18. Se você pudesse ser qualquer mulher famosa, qual seria?


Ser famosa é uma trabalheira…mas evidentemente que admiro muita as pessoas que dão o melhor de si em tudo que fazem, mas a perspectiva que mais me agrada é as que têm uma actividade útil à sociedade, atingindo a fama por mérito. 


19. Imagine que seu primeiro filho seja uma menina, como a chamaria?


Meu primeiro filho é um rapaz, chama-se Pedro


20. Imagine que seu segundo filho seja um menino, como o chamaria?


Meu segundo filho foi uma rapariga, Marta


21. Você pensa em morar fora?


Adaptar-me-ia facilmente, mas as minhas raízes nunca podiam ser abandonadas de uma forma radical, sou muito ligada aos sítios, que representam fases da vida e afectos.


22. O que você mais quer agora?


Isto já é entrar num plano muito íntimo se pensar mesmo em mim, no aspecto geral penso naqueles lugares comuns habituais, que todos desejam, mas que às vezes muito se diz e pouco se faz.


23. Qual a pessoa mais importante na sua vida?


Todas as de quem gosto e fazem parte da minha vida são importantes, por razões que podem ser diversas, mas nenhuma substitui a outra.


24. Qual seu sonho a curto prazo?


Tenho tantos sonhos, que nem sei por onde começar! Sou uma sonhadora militante! rsssss




Dentro das regras teria que passar o selo a 10 blogs:

O problema é sempre o mesmo: uns gostam, outros não gostam, outros não têm tempo...portanto este é um selo para todos os meus seguidores e nesta conformidade deixo ao critério de cada um, levar o selo e responder às perguntas ou apenas levar o selo...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

NAS ESQUINAS DA RUA SANTA CATARINA...

É conhecido, que nas esquinas da Rua Santa Catarina, frente a frente se encontram os bustos de Camões e de Dinamene, não encontro comprovações para que assim seja...até porque a suposta Dinamene seria chinesa o que não corresponde ao busto da mulher...



Boa parte das informações sobre a biografia de Camões suscitam dúvidas e, provavelmente, muito do que sobre ele circula não é mais do que o típico folclore que se forma em torno de uma figura célebre. São documentadas apenas umas poucas datas que balizam a sua trajectória.


A decantada Dinamene também parece ser uma imagem poética antes do que uma pessoa real.


Identificada, segundo uma tradição biográfica de contornos mais lendários do que históricos, com uma jovem chinesa que teria perecido num naufrágio, no rio Mecom, são várias as interpretações que têm sido levantadas quanto à identidade deste nome, inclusivamente a de que corresponderia ao nome de uma das ninfas do mar, a que se referem vários escritores da Antiguidade. No âmbito da lírica camoniana, as composições em memória de Dinamene integram um ciclo de sonetos onde a expressão do amante exilado, pela morte no mar da mulher amada, é o ponto de partida para a exploração pungente das dialécticas temáticas amor/morte e ausência/presença.


Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?

*
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís de Camões

quinta-feira, 19 de maio de 2011

NA ESQUINA DO TEMPO, nº.50 – GLÓRIA LEÃO

As pessoas são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons.
Cícero (Citação tirada do livro)


Ler um livro de alguém que se «conhece», com quem já se trocou muitas ideias, com quem se foi trocando, por um lado palavras de desalento e por outro de incitamento, mutuamente …foi uma experiência nova para mim…Página a página reencontrei a amiga e as conversas tidas, de assuntos tão diversificados! Apesar de se revelar através de vários nomes da mitologia, não deixou de ser a minha amiga Glória Leão! Vi-a como olhando para um espelho de água reflectindo as suas verdades, o mais e o menos, com a mesma intensidade e frontalidade.


Fiz uma leitura de rajada e depois mais calmamente frui do livro.


O conteúdo do livro é a verdade de alguém que andou anos guardando o mundo envolvente. Uma respigadora da vida, do que viveu, do que sentiu, do que conheceu…tudo que foi passando por si, que a absorveu e que lhe motivou muitas reflexões…assim a obra nasceu…súmula da vida de uma mulher, onde as mulheres se podem encontrar, nos seus ganhos e perdas, sonhos e decepções, lutas e derrotas…mas também em tudo que é a sua vida: família, amigos e inimigos, sociedade, política…a observação plena da vida em todos os seus quadrantes.

Há muita vida depois dos 50 e da menopausa!
Excerto de um capítulo « Dione, A Pescadora de Tempestades», que de certa maneira «vivi» ... e de que me lembro muito bem!

Um dia quando o seu sangue parou de fluir e secou, seus hormônios diminuíram e seu sexo não mais podia gerar um filho, Dione redescobriu-se escritora.



Pescava, tentava fisgar em si mesma a razão de ter nascido.


Num dia de vendaval e tempestade intensa, com ventos cantando, rugindo, batendo janelas e portas, sangrou como nunca.






Sangrava pela ponta dos dedos, a cada frase, a cada palavra que vinha como se lhe baixasse um espírito que precisasse sair através do seu sangue, sua dor, seu sofrimento.


Escrever passou a ser uma questão de vida. De sobrevivência.


Os filhos já haviam-se tornado adultos. Suas vidas já caminhavam por trilhas pelas quais ela não podia mais seguir com eles.


Viu que a casa, agora vazia na maior parte do tempo, era seu navio.


O silêncio não a incomodava, pelo contrário, precisava dele, ele a nutria


Precisava dessa paz, dessa solidão povoada de memórias, lembranças, remorsos, arrependimentos.


Agora era ela com ela mesma. Suas questões tinham que ser resolvidas em silêncio, com as perguntas que se fazia e as respostas que deviam vir de dentro dela.


A aparente solidão era somente aparente. Um mundo novo ia surgindo dentro de Dione.


Parecia redescobrir sua antiga paixão, em meio a emaranhados de lembranças, como velhas redes perdidas e encontradas, séculos depois, no fundo do mar.


Havia de tudo ali.


Em meio a lembranças cheias de ferrugens e cracas, vinham também saudades, recordações, encontros, desejos nunca saciados, sonhos jamais desfeitos.


A rede, carregada disso tudo, chegava à tona pesada, muitas vezes querendo voltar para o fundo, e ela puxava, não a deixando ir embora. Mas muitas vezes, afundava novamente por tanto peso que carregava.


Se era para ser com sofrimento e dor e que só dessa maneira conseguiria trazê-la para cima, que assim fosse.


Se era para ser com lágrimas, tristezas, abismos, despenhadeiros, que assim fosse.

GLÓRIA LEÃO

terça-feira, 17 de maio de 2011

BUDDHA EDEN

A finalidade era conhecer o jardim BUDDHA EDEN, mas parar em Aveiro (a Veneza portuguesa), nas Caldas da Rainha (a Rainha do Oeste) e depois em Óbidos (jóia medieval) é sempre agradável. O Jardim foi concebido pelo Comendador José Berardo em resposta à destruição que ocorreu em 2011 dos Budhas de Bamiylan no Afeganistão pelo governo taliban, que eram uma herança para a humanidade.



O Jardim da Paz, encontra-se situado nos terrenos luxuriosos da Quinta dos Loridos, no Bombarral e a poucos kilómetros de Óbidos. O jardim ocupa uma área de 35 hectares. Com cerca de 6000 toneladas de mármore e granito, budhas, lanternas, estátuas de terracotta e várias esculturas que foram colocadas cuidadosamente entre a vegetação. Este espaço verde com o seu lago central é um local de paz e tranquilidade, onde se pode descobrir vários caminhos ou ficar a relaxar na erva que circunda o grande lago. A escadaria central é o ponto focal do jardim, onde se encontram os budhas dourados. Pelo jardim estão espalhados 700 soldados de terracotta. São pintados à mão e cada um deles é único. No lago pode observar-se os peixes Koi e os dragões esculpidos a erguerem-se da água.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

DEVANEIO...

Paula Rego

Está cinzenta a tarde…a tarde que vai crescendo para a noite…nas noites em que os olhos se arregalam…e das órbitas saltam para a rua…para aquela brisa que está além das paredes…brisa que arrepia um corpo desaconchegado que anda calcorreando a cidade húmida …em buscam do que se quer esquecer…

É uma caminhada incessante, até que o corpo queda-se olha a erva molhada pela frescura da noite, deita-se e encolhe-se como um feto…ali está só, ao relento…de manhã acorda com a música dos pássaros…o sol percorre-lhe o corpo…traz-lhe um calor apetecido…deitada olha para o céu…para as nuvens que caminham…que se enchem e esvaziam…uma borboleta passa-lhe rente aos olhos…uma borboleta lembra-lhe qualquer coisa…um sonho…estava de mão dada, alguém sorria e dizia: «Olha aquela como é bonita…tem asas azuis…e aquela amarela e castanha….olha uma rajada de preto e branco…fechou os olhos…apertou as mãos vazias e lembrou-se de algo cujas formas não conseguia definir. Depois fixou-se no cantar dos pássaros…tentou perscruta-los nos ramos das árvores, em vão…

Depressa se levantou e começou a andar, tomou um caminho ao acaso, afinal qualquer caminho servia, bastava colocar um pé atrás do outro e ir em frente! Sentiu nas narinas o cheiro da maresia, o mar estava perto… Caminhou e apareceu… Parecia de prata, desceu as escadas e sentou-se na areia, enlaçou as pernas com os seus braços e ficou a olhar, aquela imensidão de água…o mar, as ondas, as gaivotas que passavam e deixavam o seu grito, que sempre lhe parecia desesperado e um sonho insinuou-se…o sonho de ver o mar por dentro, de lhe descobrir as entranhas, a essência…de ver lá no fundo o seu coração a bater… Mas como ele pulsava espraiando a sua energia!...Aproximou-se queria sentir nos lábios o sal…nos pés nus a carícia da água a ir e a vir, movimento incessante…Contou as ondas…na sétima pensou: não há desejos a pedir e virou as costas ao mar…na praia começaram a aparecer pessoas com as suas crianças, ficou a brincar com elas com os olhos…sorriu, esboçou gestos, estendeu a mão…mas ninguém a via…desconsolada pegou uma mão cheia de areia, apertou-a, soltou os dedos e viu como ela se escoava rapidamente…

Levantou-se pegou seus trastes e pensou «tenho que viver sem saber para quê, vivendo, e assim vou-me esquecer para que vivo! »

Escrito num dia de desânimo! A marginalidade na sociedade é sempre uma temática que me impressiona bastante! A pessoa que não tem emprego, casa, família...e quantos eu não vejo cruzarem-se no meu caminho? E quantas histórias não ouço, dos desvarios da vida? Esta é a miséria contemporânea...que vai crescendo...é uma miséria assustadora...que se torna muito presente nos portais da cidade...que vive de expedientes...que procura ganhar o suficiente para os remédios do esquecimento: o alcool e a droga!...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MAIS UM PASSEIO...PORQUE AGORA SÓ APETECE PASSEAR...



Não é esta zona do parque que mais frequento, chamada de Oriental, mais distante, também mais frequentada e ruidosa. Aqui concentram-se os complexos desportivos e o Pavilhão da Água, herança da Expo 98 e que deve estar com dificuldades de manutenção!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

QUEM SE LEMBRA DE JOSEPHINE BAKER?

Lembro-me de em minha casa ouvir falar de Josephina Baker, o meu pai tinha um especial apreço por estar ao corrente da vida artística e tudo lá em casa se parecia com alguém! O meu pai era o Maurice Chevalier, a minha mãe por ser Beatriz e pessoa alegre, a Beatriz Costa e a minha irmã, parecida ou não, queria imitar a Gina Lollobrigida, no género de roupa e penteado e, eu era demasiado pequena para me parecer com alguém. Há pouco estava a ver um filme e ocorreu-me ao pensamento o dia da mãe a depois sem saber bem porquê, Josephina Baker, tudo porque me lembro de falarem da mulher extraordinária que foi investindo o dinheiro ganho na adopção de crianças, sem ser mãe biológica foi de facto por amor ao próximo uma excelente mãe.


Vim ao computador, pesquisar sobre Josefina. De facto adoptou 12 órfãos de várias etnias, aos quais chamava "tribo arco-íris." Eram eles: Janot, coreano; Akio, japonês; Luís, colombiano; Jari, finlandês; Jean-Claude, canadense; Moïse, judeu francês; Brahim, argelino; Marianne, francesa; Koffi, costa-marfinense; Mara, venezuelana; Noël, francês, e Stellina, marroquina.


 

Josephina Baker, cantora e bailarina negra, nasceu em Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1906. Começou por cantar na rua, foi fazendo carreira e em 1925 estreou em Paris, no Théâtre des Champs-Élysées, fazendo imediato sucesso com as suas danças eróticas, aparecendo praticamente nua em cena. Acabou por se tornar estrela da Folies Bergère , granjeando grande sucesso. Teve vários maridos e amantes célebres.


Durante a Segunda Guerra Mundial, teve um papel importante, como espia, na resistência à ocupação. Foi depois condecorada com a Cruz de Guerra das Forças Armadas Francesas e a Medalha da Resistência. Recebeu também, do presidente Charles de Gaulle, o grau de Cavaleiro da Legião de Honra.



Nos anos 1950, usou da sua grande popularidade na luta contra o racismo e pela emancipação dos negros, apoiando o Movimento dos Direitos Civis de Martin Luther King. Baker também trabalhou na National Association for the Advancement of Colored People (NAACP).


 


Foi a partir desse ano que começou a adoptar crianças órfãos, oriundas das tournées que fazia pelo mundo, passando a criá-las no seu castelo, Les Milandes, nas vizianças de Paris. Também adoptava animais de todas as raças.



No final dos anos 60, passou por dificuldades financeiras, deixou de actuar em 1968. A princesa Grace do Mónaco ofereceu-lhe uma casa no Principado. Baker apresentou-se então no Mónaco, com grande sucesso, em 1974. No mesmo ano fez apresentações em Nova York. Estava a preparar-se para comemorar, em Paris, os 50 anos de palco, quando entrou em coma e morreu aos 68 anos, em 1975.

CARTA AOS MEUS SEGUIDORES...


Tenho que dar uma explicação relativamente a não comentar tanto como eu gostaria…Sempre gostei de visitar os blogues das pessoas com quem já estabeleci cumplicidade e pelas quais sinto afinidades…mas o chegar ao blogue, o tempo que alguns deles demoram a abrir, esperar para deixar o comentário, alguns depois requerem que escreva aquelas letras malucas, que eu nem sei para que servem…dão cabo da minha paciência…e insisto…e espero…e há mesmos alguns blogues onde nem consigo entrar…sinto-me frustrada, esta situação tem de facto piorado!
Por outro lado também já tive indicações que por vezes é difícil chegar ao meu blogue!...
O interesse que suscita  o «feedback» do que se escreve está a falhar!



Sou básica em questões da internet…ie fui aprendendo com as dificuldades que foram aparecendo e com algumas dicas que me foram dando, mas longe de dominar os caprichos deste bicho…algumas perguntas me ocorrem.


Têm tido este problema?
Será que este problema é especificamente do meu computador?

sábado, 7 de maio de 2011

ERROS - «Errare humanum est, perseverare diabolicum»

COMPREENDER...



Os Erros

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

...OU QUERER COMPREENDER, NÃO QUERENDO MAIS COMPREENDER...



O Paradoxo do Entendimento

Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos sabia que estava em plena condição humana.

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres»

quinta-feira, 5 de maio de 2011

PASSEIO ATÉ À RIBEIRA COM A MÚSICA da Fanfare Ciocarlia

As fotografias começam na saída do eléctrico e logo pela frente está a Igreja de S. Francisco, riquíssima, a mais rica em talha dourada, visita imprescindível e para quem não se impressionar ao lado, além de poder ver um museu de arte-sacra, também pode ver um cemitério subterrâneo onde grande parte de esqueletos e caveiras estão visíveis.



Descendo para a Praça da Ribeira pela Rua da Reboleira, encontra-se logo uma casa da Idade Medieval (séc. XIV), segue-se a conhecida casa de fados «O Mal Cozinhado» (contrariamente a Lisboa, o Porto só tem três casas de fado).


Caminhando rua abaixo, chega-se à Capela da Sr.ª do Ó, esquina da rua onde se encontra a Casa do Infante.


[O edifício da velha Alfândega está ligado à figura do Infante D. Henrique que, segundo a tradição, teria nascido neste local, em 1394. A origem portuense do Infante D. Henrique é conhecida através do cronista Fernão Lopes. No Arquivo Histórico Municipal do Porto existe o documento com as despesas efectuadas durante as festas do seu baptizado. A ligação do nascimento do Infante a este edifício entronca numa tradição popular. Sabemos que a torre norte foi habitação do almoxarife do rei, podendo ter sido este o local de estadia da corte. A credibilidade da versão popular assenta ainda no facto de se tratar do maior edifício civil do burgo e de ser propriedade da coroa].

Prosseguindo, aparece o mítico café-concerto Aniki Bobó, em alusão a um dos filmes feitos por Manuel de Oliveira, com o mesmo nome. A seguir o Restaurante Postigo do Carvão, sítio de boas noitadas!

[Das 18 portas e postigos das Muralhas Fernandinas, construídas no século XIV em torno da cidade do Porto, o Postigo do Carvão é o único que sobreviveu até aos nossos dias.]



 
Chegada à Praça da Ribeira, encontra-se o S. João (santo da grande festa da cidade, com particularidades muito especiais), estátua feita por José Cutileiro e depois o Cubo da Ribeira, insólita escultura de José Rodrigues.



Na Pr. da Ribeira existem muitas esplanadas onde se pode ver o rio Douro, a Ponde de D. Luís que faz ligação com Gaia, onde se localiza o Mosteiro da Serra do Pilar e os novos funiculares, que ligam a parte superior de Gaia ao cais.


No meu trajecto passo pelo Restaurante Marina, local de tradição de bons convívios, chego ao Peter, o célebre café dos Açores que abriu portas na Ribeira e vou para a rua da Lada, passando pelo Bar-concerto o Duque.


[Deocleciano Monteiro, popularmente conhecido por Duque da Ribeira, ( 1902 – 1996) foi um barqueiro e figura carismática da cidade do Porto. Com apenas onze anos, salvou um homem de morrer afogado no rio e, a partir daí, foi protagonista de inúmeros salvamentos naquele local ao longo de décadas. Foi alvo de diversas homenagens. A praça junto à Ponte Luís I recebeu o seu nome, tendo sido colocada uma lápide no local, com busto de José Rodrigues.


Elevado ao estatuto de figura pública, o Duque da Ribeira conviveu com diversas personalidades portuguesas e estrangeiras e no seu livro de autógrafos constavam as assinaturas da rainha Isabel II, de Inglaterra, dos presidentes portugueses Ramalho Eanes e Mário Soares e do presidente de Moçambique Samora Machel, entre muitos outros.]


Seguindo pela Rua dos Canastreiros, meto pelas arcadas para chegar ao restaurante Chez Lapin , lembrando as noitadas inesquecíveis lá passadas e a Maximiana, uma senhora que nos tratava muito bem da barriguinha e alinhava com as nossas larachas. Sempre deixavamos um poema ou prosa, ali lavrados e que depois se escreviam na parede, paredes que estavam à disposição para isso mesmo e onde se misturavam várias línguas.


Depois nada como ficar na Pr. da Ribeira a beber um fino ou fininho, forma como no Porto se chama a um copo de cerveja, acompanhando com uns tremoços, que as pombas sempre disputam. Há sempre espectáculo improvisado.


Uma passagem ainda pelo cais da Estiva e regresso ao eléctrico pelo Muro dos Bacalhoeiros rumo à Foz.


Obviamente que a Ribeira não se esgota neste passeio, o emaranhado de ruas e vielas é grande, o que dá para muitas opções de passeio.






Na Av. Brasil na Foz, a célebre estátua do Salva Vidas de Henrique Moreira e o intrincado mistério da "Casa Manuelina", que se encontra fechada e muito degradada. O último residente foi um sapateiro, que vindo de África a ocupou ilegalmente, durante 20 anos e assim ficou a ser conhecida como a «casa do sapateiro». Tem dono? Vai cair aos bocados? Pesquisando um pouco encontrei pouca coisa!


[O verdadeiro nome é Casa do Relógio de Sol e nada tem de manuelino. A casa foi construída em 1910-11, por ordem de um capitão de artilharia republicano. O projecto de arquitectura é atribuído a José Teixeira Lopes, irmão do famoso escultor António Teixeira Lopes.


A casa é uma marca do tempo em que a Foz começou a afirmar-se como o local de residência de uma certa burguesia, que ia a banhos. A casa é também sintomática de um tempo em que o pastiche era comum.


Uma das particularidades desta casa encontra-se nas janelas, o arquitecto introduziu no projecto vários elementos de arquitectura manuelina, cada janela reflecte uma variante desta corrente arquitectónica.


A casa chegou a estar em vias de classificação mas foi retirada da lista de património pelo IGESPAR em 2008.]


É pena que mesmo não tenha sido classificada, esteja naquele abandono, por muito kitsch que possa ser, ainda assim era interessante a sua conservação e poderia ter vários destinos.


Mais á frente, um senhor entretêm-se a dar pão aos pombos…a Pérgula (à quem escreva Pérgola) da Foz…e o mar…um banco sobre o mar…

terça-feira, 3 de maio de 2011

ORIENTE/OCIDENTE ....Reflexão de AMIN MAALOUF

Amin Maalouf  é um escritor libanês.

Durante 12 anos foi repórter, tendo realizado missões em mais de 60 países.


Tem uma obra vasta e recebeu os seguintes prémios:

Prix des Maisons de la Press pela obra “As cruzadas vistas pelos Árabes”
Prémio Goncourt 1993 pela obra “O rochedo de Tanios”
Prémio Príncipe das Astúrias na categoria letras em 2010.



 Mercado em Jaffa - GUSTAV BAUERNFEIND (1848-1904)




O que eu censuro hoje ao mundo árabe é a indigência da sua consciência moral; o que eu censuro ao Ocidente é a sua propensão para transformar a sua consciência moral num instrumento de dominação. Duas acusações pesadas e para mim duplamente dolorosas, mas que não posso deixar de fazer (…). No discurso de uns procurar-se-ia em vão os vestígios de uma preocupação ética ou a referência a valores universais, no discurso dos outros estas preocupações e estas referências estão omnipresentes mas são usadas selectivamente e constantemente desviadas a favor de uma política. O resultado é que o Ocidente não cessa de perder a sua credibilidade moral e os seus detractores não têm nenhuma.



UM MUNDO SEM REGRAS
Amin Maalouf 

domingo, 1 de maio de 2011

MORREU O ESCRITOR ARGENTINO ESNESTO SABÁTO (1911-2011)

Vertigem Civilizacional Desumana


O homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autómato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças. Estamos no caminho mas não a caminhar, estamos num veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como uma grande jangada ou como essas cidades satélites que dizem que haverá. E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de nós caminha devagar? Mas a vertigem não está só no exterior, está também na nossa mente que não pára de emitir imagens, como se também fizesse zapping; talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o silêncio e também o grito.


Na vertigem tudo é temível e desaparece o diálogo entre as pessoas. O que nos dizemos são mais números do que palavras, contém mais informação do que novidade. A perda do diálogo afoga o compromisso que nasce entre as pessoas e que pode fazer do próprio medo um dinamismo que o vença e que lhes outorgue uma maior liberdade. Mas o grave problema é que nesta civilização doente não há só exploração e miséria, mas também uma correlativa miséria espiritual. A grande maioria não quer a liberdade, teme-a. O medo é um sintoma do nosso tempo. A tal extremo que, se rasparmos um pouco a superfície, poderemos verificar o pânico que está subjacente nas pessoas que vivem sob a exigência do trabalho nas grandes cidades. A exigência é tal que se vive automaticamente sem que um sim ou um não tenha precedido os actos.


Ernesto Sábato, in 'Resistir'


BIOGRAFIA

DIA DA MÃE



Mãe onde estás? Tenho saudades

Do teu corpo quente, dos teus afagos

Está tanto frio na minha alma, mãe!

Preciso de ouvir a tua voz a dizer-me meiguices!

«A minha menina, o meu doce, a minha flor!»

Com beijos me apertavas

Contra o teu peito!

Eu preciso mãe

Que me embales em carícias do teu jeito!


Partiste

Nem sequer nos despedimos…

Perdi o teu olhar vivo

Os teus olhos pareciam peixes mortos

Escapou-te a essência e o teu corpo

Em espasmos líquidos

Foi atrás

Mais devagar!


Que golpe no peito,

Que dolorosa facada

Fiquei destroçada e triste,

Sem esteio…

Na minha dor calada!..