A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




quinta-feira, 19 de maio de 2011

NA ESQUINA DO TEMPO, nº.50 – GLÓRIA LEÃO

As pessoas são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons.
Cícero (Citação tirada do livro)


Ler um livro de alguém que se «conhece», com quem já se trocou muitas ideias, com quem se foi trocando, por um lado palavras de desalento e por outro de incitamento, mutuamente …foi uma experiência nova para mim…Página a página reencontrei a amiga e as conversas tidas, de assuntos tão diversificados! Apesar de se revelar através de vários nomes da mitologia, não deixou de ser a minha amiga Glória Leão! Vi-a como olhando para um espelho de água reflectindo as suas verdades, o mais e o menos, com a mesma intensidade e frontalidade.


Fiz uma leitura de rajada e depois mais calmamente frui do livro.


O conteúdo do livro é a verdade de alguém que andou anos guardando o mundo envolvente. Uma respigadora da vida, do que viveu, do que sentiu, do que conheceu…tudo que foi passando por si, que a absorveu e que lhe motivou muitas reflexões…assim a obra nasceu…súmula da vida de uma mulher, onde as mulheres se podem encontrar, nos seus ganhos e perdas, sonhos e decepções, lutas e derrotas…mas também em tudo que é a sua vida: família, amigos e inimigos, sociedade, política…a observação plena da vida em todos os seus quadrantes.

Há muita vida depois dos 50 e da menopausa!
Excerto de um capítulo « Dione, A Pescadora de Tempestades», que de certa maneira «vivi» ... e de que me lembro muito bem!

Um dia quando o seu sangue parou de fluir e secou, seus hormônios diminuíram e seu sexo não mais podia gerar um filho, Dione redescobriu-se escritora.



Pescava, tentava fisgar em si mesma a razão de ter nascido.


Num dia de vendaval e tempestade intensa, com ventos cantando, rugindo, batendo janelas e portas, sangrou como nunca.






Sangrava pela ponta dos dedos, a cada frase, a cada palavra que vinha como se lhe baixasse um espírito que precisasse sair através do seu sangue, sua dor, seu sofrimento.


Escrever passou a ser uma questão de vida. De sobrevivência.


Os filhos já haviam-se tornado adultos. Suas vidas já caminhavam por trilhas pelas quais ela não podia mais seguir com eles.


Viu que a casa, agora vazia na maior parte do tempo, era seu navio.


O silêncio não a incomodava, pelo contrário, precisava dele, ele a nutria


Precisava dessa paz, dessa solidão povoada de memórias, lembranças, remorsos, arrependimentos.


Agora era ela com ela mesma. Suas questões tinham que ser resolvidas em silêncio, com as perguntas que se fazia e as respostas que deviam vir de dentro dela.


A aparente solidão era somente aparente. Um mundo novo ia surgindo dentro de Dione.


Parecia redescobrir sua antiga paixão, em meio a emaranhados de lembranças, como velhas redes perdidas e encontradas, séculos depois, no fundo do mar.


Havia de tudo ali.


Em meio a lembranças cheias de ferrugens e cracas, vinham também saudades, recordações, encontros, desejos nunca saciados, sonhos jamais desfeitos.


A rede, carregada disso tudo, chegava à tona pesada, muitas vezes querendo voltar para o fundo, e ela puxava, não a deixando ir embora. Mas muitas vezes, afundava novamente por tanto peso que carregava.


Se era para ser com sofrimento e dor e que só dessa maneira conseguiria trazê-la para cima, que assim fosse.


Se era para ser com lágrimas, tristezas, abismos, despenhadeiros, que assim fosse.

GLÓRIA LEÃO

6 comentários:

Glorinha L de Lion disse...

Manu querida! Que surpresa maravilhosa! Fiquei tão feliz por me descreveres tão bem! Como podemos nos conhecer mutuamente através da escrita! E foi e tem sido assim querida amiga...através dos inúmeros emails trocados, através de tudo o que contamos uma à outra fomos nos conhecendo e nos enxergando, mesmo que, à distância! Como sinto-me lisonjeada por amigas como vc, com teu estofo e cultura falarem bem de meu livro. Me dá um orgulho danado de bom! Obrigada querida, muitíssimo obrigada pelo carinho e, principalmente, pela generosidade em ler-me entre as linhas...beijos amada amiga, vou colocar o teu lonk lá no meu blo...

Unknown disse...

Tenho á cabeceira ainda não o abri,está para breve,não gosto de saltar por cima deles (os livros).

Beijo meu.

Lúcia Soares disse...

Manu, o livro é de leitura fácil, as palavras parecem que saltam da Glorinha como plumas ao vento.
Bem sei que não é fácil desnudar a alma, como ela faz, mas parece que lhe é natural, está apenas conversando.
Gostei muito do livro e é para ser relido, deixado na cabeceira e pegá-lo, abrir em uma página aleatoriamente e se deliciar de novo.
Beijo!

Yo Neris disse...

Estou quase terminando de ler o meu...Estou adorando!
Sem dúvida nenhuma, um livro que recomendo.
bjs

Bombom disse...

Manú, parabéns por este magnífico post. A Glorinha merece. Percebo bem que tenhas lido tudo num repente e depois tenhas voltado a ler para usufruir cada palavra e cada sentimento. Comigo está a acontecer o contrário: estou a ler de vagar, como quem come um chocolate com dentadinhas para ele durar mais tempo a saborear... Como somos diferentes! Bjs. Bombom

orvalho do ceu disse...

Olá, querida
Só quem o leu experimentou a delícia que é e que troca de vida nos traz...
Bjs de paz