A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




sábado, 30 de abril de 2011

Ler é sempre mais importante que escrever – Jorge Luis Borges

Sempre li muito e escrevi, ie ia escrevendo num caderno aquilo que lia de mais interessante, porque o gosto de ler era grande e o gosto de escrever também! Mas também escrevi algo de cunho pessoal e para que isso possa aconteçer, na minha opinião, é preciso ler bastante. Neste caso escrevi muito pouco, relativamente ao muito que li.
Hoje, em tempos de computador, onde se pode ir buscar muitas referências, estes cadernos parecem um bocado arcaicos, mas ainda os vou desfolhando, entro na miscelânea temática e reencontro-me em anos vividos, no entanto já não me apetece fazer apontamentos, tenho tentado em vão...vou sublinhando os livros! Coisa feia?...Assim eu pensava, mas depois passei a considerar que assim os meus herdeiros poderão ter complementos de visão sobre a minha pessoa, cada sublinhado é um risco pessoal!...

Nestas releituras apanhei estes apontamentos de João José Cachofel

Faz que a vida seja o que te nega.


O que a razão pensa, a inspiração não sente


Bate coração inútil ao renovo perene da música,/ que iluminando/vai tecendo/os impossíveis mundos perdidos.


Uma dor de esperança/que teima em romper/deste chão de raiva/que nos dão para viver.


Egoísmo de bicho/simulado ou não/mas que bem que me sabe/esta solidão/Ó comedida felicidade/com o teu ópio vão/sobre tantas náuseas/passa a tua mão.

E APARECE-ME ESTA FRASE SEM IDENTIFICAÇÃO:

Terra e liberdade – Difícil criar mundos justos. O real mata a ideologia. A realidade derruba todos os sonhos. A realidade é complexa, egoísta e ambiciosa.

É que o amor, quando faz parte do sonho que se tem para uma vida, torna-se uma obsessão, que cresce por dentro da cabeça, como o mais abstracto dos tumores e ocupa os pensamentos como se não houvesse para além dele, outras coisas na vida.


Nuno Júdice

III



- Eu sou uma coisa qualquer
Eu sou uma qualquer coisa
sou uma qualquer coisa eu
uma qualquer coisa eu sou
qualquer coisa eu sou uma
coisa eu sou uma qualquer
EU NÃO SOU UMA COISA QUALQUER
- eu sou uma cidade
- eu sou ZANONI de Bulwer Lyton
- eu sou uma errata
- onde está a minha vida deve-se a ver a nossa vida
- onde está Deus deve-se ver o Diabo
- onde está o Amor deve estar o Grande Amor Mágico Amor Meu
- onde estou Eu deves estar Tu
- onde estão os lábios da nossa vida HÁ uma porta secreta minúscula
O-AMOR
MEU AMOR
António Maria Lisboa

ESTES CADERNOS ESTÃO FUNDAMENTALMENTE CHEIOS DE ANTAGONISMOS E MUITO NEGATIVISMO, MAS TAMBÉM DE UMA GRANDE VONTADE DE PROCURA DE UM CAMINHO, PORQUE O MAIS CONSTANTE EM MIM FOI SEMPRE SENTIR-ME ESTONTEADA COM A VIDA!... 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Depois de serem respondidas todas as questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem completamente intactos. Wittgenstein

Sempre fui muito realista, sempre em fuga do que transcende a realidade, mas se antes dizia categoricamente «não acredito», com o tempo acabei por me acomodar ao «não tenho opinião», com a certeza do velho mestre que dizia «só sei que nada sei» e isto parece-me basilar na procura do conhecimento, se as leituras são eclécticas e não lemos só aquilo em que queremos acreditar, chega-se a ponto de muita interrogação.

Isto bem a propósito do filme «O Tio Boomee Que se Lembra das Suas Vidas Anteriores» do realizador tailandês, Apichatpong Weerasethakul, designado por alguns como o David Linch tailandês, autor de filmes que cartografam sobretudo territórios «interiores», um desfilar de imagens que parecem desfilar uma corrente da consciência.



O filme baseou-se numa conversa que o realizador teve com um abade de um mosteiro, chamado Boonmee, que lhe contou que quando estava em meditação profunda via as suas vidas anteriores, um búfalo, uma vaca ou mesmo um espírito desencarnado a passear pelas planícies e escreveu um livro sobre isso.


O filme é sobretudo uma deambulação poética com uma volatilização e dissolução das linhas narrativas, mas centra-se num homem que com uma doença terminal, decide retirar-se para o campo e passar os seus últimos dias de vida junto aos seus entes queridos. Uma noite é surpreendido pela aparição da sua falecida mulher e também de um filho desaparecido, que aparece sob a forma de uma criatura não-humana…


O realizador admitiu que o filme é principalmente acerca da sua visão da reencarnação, uma meditação de índole budista e panteísta acerca da natureza cíclica, impermanente e espiritual da vida. Mais do que um filme, é um hipnótico exercício de meditação visual.


O filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2010.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A PRAIA E...O INCRÍVEL!...

E a praia aqui tão perto...e este mar tão apetecível...praticamente sem ondulação...Estava eu de água até ao joelho com vontade de mergulhar, mas...água fria...era preciso que me ambientásse...entretanto um pé se enrolou no outro e catrapum...caí na água...foi o meu primeiro banho este ano...Claro que há muitas pessoas que nem pensar em tomarem banho em águas do norte...eu tomo sempre muitos banhos...e se a água é fria, mais revitalizada me sinto...

O incrível é um edificio completamente em ruínas, que existe há uns anos, praticamente na praia, entre o Castelo do Queijo e o Edifício Transparente...Teve como última função ser o Colégio Luso-Internacional e depois ventilaram-se projectos sem concretização...já mostrei o edifício em si, apelando a uma intervenção do presidente da Câmara, mas...

Por dentro é assim...













Realmente isto é uma nódoa na paisagem...que incomoda bastante visualmente...mas o que se passa é que situações destas podem ficar assim anos e anos, até num local muito visitado pelos turistas...Também devia ser levado em conta, que é local perigoso e infecto...
Ou se faz construções e recuperações depressa demais, sem muitas vezes a análise conveniente ou se passam tempos com impasses...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

RECTIFICANDO: OS CRAVOS NÃO PODEM MURCHAR...

Em tempos em que as notícias parecem todas más, é bom ter a percepção que há zonas de consolo e bem- estar!

O Sol brilha, as andorinhas vão chegando, os dias de praia, já são possíveis e agradáveis e assim nesta Primavera é bom andar de sorriso no rosto, ombros erguidos, costas direitas e testa sem franzidos.
Claro que temos muito a contestar, muitas queixas e muito para nos indignar! Há sempre quem goste de ser radical, de mergulhar na desgraça completa, mais do que o fado é um estilo de vida. Muitos dirão revoltados, com tantos absurdos em que fomos vivendo: «eu disse, eu tinha razão»! Mas há outros que conseguem construir um reduto íntimo que os defende da baixa política ou da alta finança. Quem se lembra… já se viveu muito pior, já se viveu com muito menos, pode sentir-se um sentimento de perda e de desilusão, de maior insegurança, mas ainda assim o que deve contar é o que se é e com quem se partilha… enfim apreciando o que há para apreciar.

UM DIA EM FAMÍLIA, COM MUITO SOL, EMBORA DEPOIS TAMBÉM SURGISSEM RAIOS E TROVÕES E UMA GRANDE CHUVADA...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 DE ABRIL 37 ANOS DEPOIS...

HOJE DIA COMEMORATIVO DA REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, PORTUGAL ATRAVESSA TEMPOS MUITO DIFÍCEIS E OS PORTUGUESES ESPERAM MEDIDAS ECONÓMICAS DRÁSTICAS...OS CRAVOS MURCHARAM...

Neste dia lembro ZECA AFONSO, sem me esquecer de tantos outros, que me insuflaram energias e fé: Adriano, J. Mário Branco, Fausto, Sérgio Godinho, Victorino, Janita, Padre Fanhais, Manuel Freire, Luís Cília, Samuel, Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho... 





sábado, 23 de abril de 2011

HALLELUJAH - BOA PÁSCOA

PÁSCOA - Palavra hebraica que significa louvai Yahveh, e que indica alegria, júbilo, regozijo...é isso que desejo...que seja possível gritarmos cá de dentro de uma forma plena e intensa...ALELUIA!...Mas aleluia, também pode ser algo sentido, por algo simples, que às vezes nem valorizamos... 


Para todos uma FLOR DA PÁSCOA - Espécie de oxalidácea dos bosques, que floresce pela Páscoa, daí o seu nome.

 

 

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ALGUÉM VÊ ALGUMA LUZ AO FUNDO DO TÚNEL?

Dias de humilhação



Passos Coelho disse-o com despudorada clareza: o programa de governo do PSD será o do FMI. E o mesmo acontecerá necessariamente com o do PS e o do CDS, partidos que, juntamente com o PSD, continuam em reuniões com os mandatários do FMI, BCE e UE para receber instruções ("negociações", chamam-lhes eles: o FMI, BCE e UE ditam e PS, PSD e CDS tomam nota, atrevendo-se eventualmente a alguma sugestão respeitosa...). Restam os programas do BE e do PCP, que conterão certamente medidas alternativas, mas não poderão, seja numa improvável participação no Governo seja na AR, alterar nada do que já tiver sido decidido pela coligação FMI/PS/PSD/CDS.

Pode, pois, perguntar-se para que é que haverá eleições senão para, à falta de pão, oferecer ao país duas ou três semanas de circo. As políticas para os próximos anos estarão, de facto, determinadas antes das eleições e independentemente dos resultados eleitorais e, depois delas, qualquer medida com impacto orçamental, mínimo que seja, do Governo ou do Parlamento, terá que ir a despacho aos tutores do país.


A suspensão da democracia sugerida por Manuela Ferreira Leite durará pelo menos três anos, durante os quais nos caberá tão só eleger capatazes que executem as ordens de Washington (FMI), Frankfurt (BCE) e Bruxelas (Comissão).


Por muito menos foi a estátua de Camões, quando do ultimato inglês, coberta de crepes pelos antepassados políticos do actual PS.

MANUEL ANTÓNIO PINA
(Artigo de Opinião do JN)

terça-feira, 19 de abril de 2011

O PRAZER DE TER AMIGOS...

«O Prazer da Leitura» de Marcel Proust, é um manifesto de amor pelos livros, o texto contém os fundamentos de uma teoria estética que depois foi desenvolvida com mais profundidade no revolucionário: EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO.

«Não há talvez dias da nossa vida que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julga-mos passar sem tê-los vivido, aqueles que passamos com um livro nas mãos.»

Sempre me entreguei aos livros com um empenho incomum, muitas vezes isolando-me, para os viver de uma forma absoluta. Uma relação de amizade, tão intensa que me deixa uma sensação de vazio, quando o livro termina. Mas este sentimento, vai continuar num outro livro que surge a seguir, um processo interminável em que a sensação de descoberta está sempre presente.

Proust escreve que só a leitura possui «a chave que nos abre, no fundo de nós próprios, a porta das habitações onde não teríamos conseguido penetrar».

Os livros têm sido realmente para mim grandes amigos, desde sempre e até sempre, estão na cabeceira, vão comigo, reconciliam-me com o sono…ler é sempre necessário, antes de me deixar escorregar por entre os lençóis...PROVOCAM-ME EMOÇÕES, dão mais vida à minha vida!





 Os Meus Livros

Os meus livros (que não sabem que existo)

São uma parte de mim, como este rosto

De têmporas e olhos já cinzentos

Que em vão vou procurando nos espelhos

E que percorro com a minha mão côncava.

Não sem alguma lógica amargura

Entendo que as palavras essenciais,

As que me exprimem, estarão nessas folhas

Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.

Mais vale assim. As vozes desses mortos

Dir-me-ão para sempre.

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda"





SEMPRE COM UMA MÚSICA DE FUNDO:

quinta-feira, 14 de abril de 2011

ABRIL...

ABRIL…sempre gostei de Abril…e muito mais quando os cravos gritaram nas armas e eu senti o sangue nas veias correndo de emoções diversas…tempos que sempre estarão presentes em mim…se fizesse uma lista dos acontecimentos importantes da minha vida esse Abril lá estava, num lugar destacado…mas esse Abril passou…e hoje Abril, que se traduz num renascimento…em cores e cheiros de uma Primavera desejada…não deixa de trazer sombras…e nas sombras ruídos, muitos ruídos atonais…que ouço com irritação…

Apetecia-me o silêncio…se o silêncio pudesse existir!...

Mesmo tapando os ouvidos ainda subsiste um zumbido revoltado…que vem das minhas entranhas…

Não há silêncio…nem em mim…nem fora de mim…apetece-me dizer CALEM-SE…

Será que é possível encontrar o silêncio?

desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.



Silêncio

Assim como do fundo da música

brota uma nota

que enquanto vibra cresce e se adelgaça

até que noutra música emudece,

brota do fundo do silêncio

outro silêncio, aguda torre, espada,

e sobe e cresce e nos suspende

e enquanto sobe caem

recordações, esperanças,

as pequenas mentiras e as grandes,

e queremos gritar e na garganta

o grito se desvanece:

desembocamos no silêncio

onde os silêncios emudecem.



Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"

Tradução de Luis Pignatelli

NAS ASAS DA SAUDADE - CARLOS PAREDES




 

 MOVIMENTO PERPÉTUO







domingo, 10 de abril de 2011

DEPOIS DE INTERVENÇÕES INDIRECTAS, AÍ VEM O FMI...

FMI volta, já por cá andou em 1977 e 1983, a propósito recordo, José Mário Branco, e a sua interpretação ao vivo em 1982, da cantiga/texto FMI.



sexta-feira, 8 de abril de 2011

ATÉGINA OU ATAEGINA - DEUSA LUSITANA DA PRIMAVERA

Deusa do renascimento (Primavera), fertilidade, natureza e cura na mitologia lusitana. Viam-na como a deusa lusitana da Lua. O nome Ataegina é originário do celta Ate + Gena, que significaria "renascimento".

O animal consagrado a Atégina era o bode ou a cabra. Ela tinha um culto de devotio, era invocada para curar alguém, ou até mesmo para lançar uma maldição que poderia ir de pequenas pragas à morte.


Atégina era venerada na Lusitânia e na Bética, existem santuários dedicados a esta deusa em Elvas (Portugal), Mérida e Cáceres na Estremadura espanhola, além de outros locais, especialmente perto do Rio Guadiana. Ela era também uma das principais deusas veneradas em locais como Myrtilis (Mértola), Pax Julia (Beja), cidades portuguesas, e especialmente venerada na cidade de Turobriga, cuja localização é desconhecida. A região era conhecida como a Baeturia celta.


Existem diversas inscrições que relacionam esta deusa com Proserpina: ATAEGINA TURIBRIGENSIS PROSERPINA, esta relação aconteceu durante o período romano. Muitas vezes é representada com um ramo de cipreste.

Herdeira de um caldeirão de povos e culturas, com mitologias bastante diversas entre si, que deixaram um fértil legado imaginário, a mitologia portuguesa engloba um conjunto de narrativas e lendas sobre personagens e seus feitos, fenómenos naturais e objectos extraordinários ou regiões fantásticas, com características sobrenaturais, transmitidas de geração em geração, no decorrer dos séculos, tanto no campo literário como no da tradição oral.



Tem como base a mitologia dos povos autóctones da Lusitânia pré-romana, legado este que não sobreviveu à conversão para o cristianismo, no entanto é possível que alguns elementos tenham sido preservados, nos contos e tradições populares. Há testemunhos esculpidos em pedra, que revelam a existência de várias divindades das quais se destacam Atégina, Bandua e Endovélico.

Atégina. Mármore, 210x93x72 cm, do artista Pedro Roque Hidalgo. Museu do Mármore, Vila Viçosa, Portugal, 2008.

 

CONSULTA AQUI
 
UM ENCONTRO COM A PRIMAVERA, MAS TAMBÉM UMA PROCURA NOSTÁLGICA, TENDO POR FUNDO A MÚSICA DE SATIE
 

quinta-feira, 7 de abril de 2011

MÚSICA COMO TERAPIA...

Que a música é uma terapia, todos sabemos, por muitos estudos já feitos. Eu sempre usei a música como uma terapia, na alegria e na tristeza, sentindo-a no corpo e no espírito…Os meus gostos musicais são muito eclécticos…e foram surgindo em épocas da minha vida, sempre de uma forma intensa! A música anglo-saxónica, a música francesa, o Jazz, a música brasileira, a música italiana…pontualmente alguma música portuguesa…até se tornar recorrente, com a música de protesto…e depois de Abril sim a música portuguesa e o fado começaram a entrar na minha vida…mas subjacente sempre e há muitos anos está a música erudita, já que clássica determina um período específico…a que tenho comprado mais, sou realmente uma coleccionadora e é muito difícil para mim dizer quais os meus compositores preferidos…ouço tudo…Bach muitas vezes…Haydn, Beethoven, Mozart…Schubert, Brahms, Chopin…Ravel, Debussy, Satie…Wagner…Tchaikovsky, Rachmaninov, Prokofiev, Shostokavitch…Brucker, Mahler…e tantos, tantos outros…


Vou ouvindo música conforme os meus estados de espírito…mas para mim, é mesmo necessário ir à sala de concertos…gosto de música de câmara, de um recital de piano, mas a minha preferência vai mesmo para as sinfonias/ poemas sinfónicos de longa duração…Depois do primeiro violino e o maestro entrarem na sala…começo a mergulhar na música…a envolver-me…a ser levada por ela…o fim geralmente é um sobressalto…como se viesse de um mundo e caísse de supetão noutro…mas depois vem o calor e o entusiasmo das palmas…e sinto aquela emoção…sinto em mim as pessoas que estiveram ali unidas pela magia da música…e aquela sensação de paz e cumplicidade…


UM EXCERTO DA SINFONIA CLÁSSICA DE PROKOFIEV



PROKOFIEV TEM OBRAS MUITO CONHECIDAS COMO:

Peter and the Wolf


Romeo & Juliet

terça-feira, 5 de abril de 2011

PAZ...

Wanderer above the Sea of Fog (German: Der Wanderer über dem Nebelmeer; also known as Wanderer Above the Mist) is an oil painting composed in 1818

Qualquer Coisa de Paz


Qualquer coisa de paz. Talvez somente

a maneira de a luz a concentrar

no volume, que a deixa, inteira, assente

na gravidade interior de estar.



Qualquer coisa de paz. Ou, simplesmente,

uma ausência de si, quase lunar,

que iluminasse o peso. E a corrente

de estar por dentro do peso a gravitar.



Ou planalto de vento. Milenária

semeadura de meditação

expondo à intempérie a sua área



de esquecimento. Aonde a solidão,

a pesar sobre si, quase que arruína

a luz da fronte onde a atenção domina.



Fernando Echevarría, in "Figuras"


The Beatles - All You Need is Love


sábado, 2 de abril de 2011

MAIS UMA ESTRELA NO CÉU....

S.M. (03.01.1969 - 31.03.2011)







A VIDA É SONHO E A REALIDADE ESTÁ PARA ALÉM DA MORTE

Basta ser breve e transitória a vida

Para ser sonho. A mim, como a quem sonha,
E obscuramente pesa a certa mágoa

De ter que despertar — a mim a morte
Mais como o horror de me tirar o sonho
E dar-me a realidade me apavora,
Que como morte. Quantas vezes, (...),
Em sonhos vários conscientemente
Imersos, nos não pesa ter que ver
A realidade e o dia!


Sim, este mundo com seu céu e terra,
Com seus mares e rios e montanhas,
Com seus arbustos, aves, bichos, homens
Com o que o homem, com translata arte
De qualquer outra, divina, faz —
Casas, cidades, cousas, modos —
Este mundo que sonho reconheço,
Por sonho amo, e por ser sonho o não
Quisera deixar nunca, e por ser certo
Que terei que deixá-lo e ver verdade,
Me toma a gorja com horror de negro
O pensamento da hora inevitável,
E a verdade da morte me confrange.


Pudesse eu, sim pudesse, eternamente
Alheio ao verdadeiro ser do mundo,
Viver sempre este sonho que é a vida!
Expulso embora da divina essência,
Ficção fingindo, vã mentira eterna,
Alma-sonho, que eu nunca despertasse!
Suave me é o sonho, e a vida porque é
Temo a verdade e a verdadeira vida.
Quantas vezes, pesada a vida, busco
No seio maternal da noite e do erro,
O alívio de sonhar, dormindo; e o sonho
Uma perfeita vida me parece...
Perfeita porque falsa, e porventura
Porque depressa passa. E assim é a vida.


3-3-1928

Fausto - Tragédia Subjectiva . Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.