FRIDA KAHLO E OS DESENHOS DO MUNDO
Creio que a adolescência tocou o teu rosto
para fazer crescer a perturbação ainda hoje
visível no olhar, o modo surpreendente
como os cabelos deslizam para a brancura
são a prova inequívoca do enigma, o vaticínio
marca-te no rosto um pouco dessa tristeza avassaladora e ténue de quem
atravessa
uma cidade para se perder no instante
de uma fonte, mão que toca a cor imponderável
das coisas para extrair do passado
uma medida de ferro, um fio de oiro,
um pássaro azul. Vejo-te passar nesse navio
longínquo que há-de um dia pertencer ao vento, decifro o reflexo de um brilho
que te sobe
para os ombros como o frágil ramo
de uma árvore vivaz e suavemente flutua
sobre a transparência para identificar o anjo
que te precede, um pouco após o sinal redutor
da inocência e a infinita doçura de quem foi perseguido e arrancou das
entranhas
subtílimos silêncios para resistir ao assédio
das pedras, os poderes aniquiladores, o rumo
das coisas quando a tempestade triunfou
sobre a tempestade e a memória entregou
o resgate de não haver resgate.
Deste lugar te avisto e avisto o mar,
esta passagem conduz ao indizível encontro
com as estrelas, sol e noite, os mínimos percalços que a natureza desoculta das
sombras e faz explodir em fragmentos translúcidos
onde se inscreve a mensagem,
uma última notícia do paraíso perdido
em que um traço de luz corresponde
ao augúrio da brisa, a voz secreta que nos
une
e separa, a palavra onde o deslumbramento
é um labirinto que pela alucinação
percorremos no incontornável fulgor
de um momento perpétuo.
AMADEU BAPTISTA
2 comentários:
Lindo e fazia um tempão não te via! Como estás? beijos,tudo de bom,chica
Grata Chica, por ainda me lembrares, ando realmente muito afastada, mas está tudo bem!
Grande abraço!
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