A Porta
Era uma vez uma porta que, em Moçambique, abria
para Moçambique. Junto da porta havia um porteiro. Chegou um indiano
moçambicano e pediu para passar. O porteiro escutou vozes dizendo:
- Não abras! Essa gente tem mania que
passa à frente!
E a
porta não foi aberta. Chegou um mulato moçambicano, querendo entrar. De
novo, se escutaram protestos:
- Não deixa
entrar, esses não são a maioria.
Apareceu um moçambicano branco e o porteiro foi
assaltado por protestos:
-Não abre! Esses não são
originais!
E a porta não se abriu. Apareceu um negro
moçambicano solicitando passagem. E logo surgiram protestos:
- Esse aí é do Sul! Estamos
cansados dessas preferências...
E o porteiro negou passagem. Apareceu outro
moçambicano de raça negra, reclamando passagem:
- Se você deixar passar esse
aí, nós vamos-te acusar de tribalismo!
O porteiro voltou a guardar a chave, negando
aceder o pedido.
Foi então que surgiu um estrangeiro, mandando em
inglês, com a carteira cheia de dinheiro. Comprou a porta, comprou o
porteiro e meteu a chave no bolso.
Depois, nunca mais nenhum moçambicano passou por
aquela porta que, em tempos, se abria de Moçambique para Moçambique.
Mia
Couto
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5 comentários:
Lindo e faz muito pensar. Esses escritos é fabuloso!
beijos,chica
Cada vez mais conheço Mia Couto e cada vez mais cresce minha admiração por ele. Domina o idioma lindamente e emociona e fez refletir.
Beijos
Bom dia Chica! Este escritor é fabuloso, pela forma peculiar e muito original como se expressa!
Beijinhosss
Olá Maria Teresa,
Este é um dos escritores, do qual não perco um livro, tem poesia e inovação a sua escrita!
Ando a ler presentemente Guimarães Rosa, também um recriador da língua, de uma forma extraordinária e muito compulsiva!
Beijos
Manuela Mia Couto é Natural de Moçambique, Beira, está tudo dito. Beijinhos
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