Em Portugal há o medo, a falta de ideia do futuro,
vive-se num presente que se perpetua. Nós temos medo de experimentar. Porque
temos medo do que irão dizer de nós. Partimos sempre do princípio do que o que
vão dizer é negativo, desvalorizante. Dificilmente alguém dirá: «Que bom o que
tu fizeste. Estou muito contente». Não, vão-nos criticar, Isso cria o medo que
paralisa, faz com que tenhamos prudência, bom senso. A prudência paralisa a
acção, mas a verdadeira prudência seria uma estratégia para medir e modular a
acção, à medida que ela se desenrola, mas não queremos agir. A sociedade
portuguesa, é fechada, não tem canais de ar, respirações possíveis. É uma
sociedade suavemente paranoica. As pessoas estão demasiado conscientes de si
próprias. Conscientes da imagem que podem produzir, da sua presença como imagem
dos outros.
Os portugueses estão sempre a falar da auto-estima,
esse termo horroroso, essa ideia auto-reflexiva, de nos amarmos a nós próprios,
em vez de estarmos virados para fora, para os outros.
O espaço público não existia, o salazarismo tinha-o
extinguido e depois da Revolução dos Cravos, passamos a ter o máximo de
expressão, mas não tínhamos instrumentos para essa expressão, por isso as
forças do poder político voltaram a dominar, ficamos dominados pelo discurso
político e a força do seu dispositivo: televisão e os «media» em geral. Estes
movem-se em circuito fechado, têm uma acção de absorção. Só se existe, se
aparecer na televisão, que não é a mesma coisa do que viver a vida, a
materialidade das ruas e do tempo. A televisão tirou-nos o «espaço da nossa
liberdade», os acontecimentos da existência, no que têm de invenção. Na
televisão tudo está formatado, não há o imprevisto, o encontro. O acontecimento
é o resultado do encontro. Mas nós temos medo de um encontro, do acontecimento,
da mudança, do futuro, do julgamento dos outros, medo de não sermos capazes,
medo de não estar à altura do acontecimento.
Não agimos, nem deixamos agir. O mecanismo da inveja,
está associado a magia, o «mau olhado», a «transferência psicótica», como a
psiquiatria a domina, o que se passa de uma pessoa para outra. Por exemplo, se
um jornalista, entre colegas, diz: fiz uma reportagem extraordinária, sem ser
por vaidade, mas de forma objectiva, alguém lhe responde: «Ai sim, pois muito
bem». Com este tom introduz em si um afecto que o vai paralisar. Cria-se um
ambiente hostil à iniciativa, que tem um efeito sobre a própria vontade de
querer fazer. Isto está generalizado, a inveja é mais que um sentimento, é um
sistema não individual, criam-se grupos de inveja.
O sistema devia ser: se alguém faz alguma coisa de
forte, isso devia ser um estímulo para os outros, mas não, diminuiu, essa
intensidade, essa iniciativa, motiva a inveja de o não ter feito ou não ser
capaz de…e tudo é feito para destruir isso, porque essa energia sufoca.
Só são afectadas pela inveja as pessoas porosas,
frágeis e isso é típico dos portugueses. Somos pessoas sensíveis e sentimos na
pele essa inveja que não nos deixa avançar. Assim há como um acordo tácito,
para que ninguém aja, ninguém avance, para vivermos em paz, porque temos medo
do conflito. Recusamos o conflito, mas temos uma violência incrível na nossa
sociedade, uma violência doméstica, os «brandos costumes«, escondem uma
violência subterrânea enorme.
PELAS EXPERIÊNCIAS JÁ VIVIDAS É TEMPO DE ACABAR COM
ISTO!
1 comentário:
Diria que é um país de complexados e daí rebentam outros defeitos e muitos problemas. Vivem para agradar e fazer o que todos fazem, porque fica bem. Invejam tudo o que sabem não serem capazes de fazer ou dizer. Concordo com que José Gil diz excepto quando diz fala na auto-estima. Não somos conscientes do valor que temos e por isso invejamos os outros. As pessoas têm consciência que nada valem e por isso invejam e por isso têm auto-estima baixa. Beijinhos
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