A Cidade - Nadir Afonso |
Esta é a Cidade Esta é a Cidade, e é bela. Pela ocular da janela foco o sémen da rua. Um formigueiro se agita, se esgueira, freme, crepita, ziguezagueia e flutua. Freme como a sede bebe numa avidez de garganta, como um cavalo se espanta ou como um ventre concebe. Treme e freme, freme e treme, friorento voo de libélula sobre o charco imundo e estreme. Barco de incógnito leme cada homem, cada célula. É como um tecido orgânico que não seca nem coagula, que a si mesmo se estimula e vai, num medido pânico. Aperfeiçoo a focagem. Olho imagem por imagem numa comoção crescente. Enchem-se-me os olhos de água. Tanto sonho! Tanta mágoa! Tanta coisa! Tanta gente! São automóveis, lambretas, motos, vespas, bicicletas, carros, carrinhos, carretas, e gente, sempre mais gente, gente, gente, gente, gente, num tumulto permanente que não cansa nem descança, um rio que no mar se lança em caudalosa corrente. Tanto sonho! Tanta esperança! Tanta mágoa! Tanta gente! António Gedeão
6 comentários:
Que bom ver que voltastes com os comentarios querida. Lindo poema. Bjos achocolatados
Olá Sandra,
Obrigada pela tua visita! Gedeão é de facto um poeta «maior» na litaratura portuguesa!
Bjs
Que lindeza o retrato desta cidade na forma de versos. Maravilhoso poema, bela escolha a compartilhar conosco, minha amiga.
Beijos e ótima semana
Valéria
António Gedeão! Adoro a Pedra Filosofal. Beijinhos
Óptima semana Valéria!
Este é o poeta daquele célebre poema:
«Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que o homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança.»
Beijo
Olá minha cara Brown Eyes, é um prazer imenso a tua visita!
O Gedeão tem uma série de poemas excelentes: Luísa sobe a calçada, Lágrima de negra, Fala do Homem nascido...Pedra Filosofal é o POEMA, motiva uma grande emoção!
Beijinhossss
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