VELOZ
FAÚLHA ATMOSFÉRICA
atrás dos comboios que passam
não fica nada
o ar que lá estava
lá fica
porta invisível
eternamente chiando
não fica nada
o ar que lá estava
lá fica
porta invisível
eternamente chiando
***
CALOTES SUSPENSAS
numa cama
enquanto lá fora chilreavam pássaros
coloquei os dedos na jugular
precipício
sobre um jardim
onde nunca mais
se teme a morte
enquanto lá fora chilreavam pássaros
coloquei os dedos na jugular
precipício
sobre um jardim
onde nunca mais
se teme a morte
***
NA SENSAÇÃO DE ESTAR POLINDO AS MINHAS UNHAS
sei que morrerei no dia do aniversário da minha morte
ainda há coisas certas na vida
o dia do aniversário da minha morte apresenta tamanha discrição
ainda há coisas certas na vida
o dia do aniversário da minha morte apresenta tamanha discrição
que
nem dou por ele
portanto não mudarei de roupa
talvez passe o dia deitada
no displicente descanso
de não atender telefones
nem me levantarei para ir ver o correio
e se alguém se lembrar de me acender
as inconsequentes velinhas
deixarei que derretam e estraguem o bolo
no dia do aniversário da minha morte
nem me penteio
portanto não mudarei de roupa
talvez passe o dia deitada
no displicente descanso
de não atender telefones
nem me levantarei para ir ver o correio
e se alguém se lembrar de me acender
as inconsequentes velinhas
deixarei que derretam e estraguem o bolo
no dia do aniversário da minha morte
nem me penteio
***
DAS BANCADAS
muito bem
serei a barata tonta
não quero dum-dum
ao menos matem-me
com pancadas de molière
serei a barata tonta
não quero dum-dum
ao menos matem-me
com pancadas de molière
ROSALINA MARSHALL
[in Manucure, Companhia das
Ilhas, 2013]
2 comentários:
Não conhecia esta poeta. Afinal ainda ando por aqui a ler as novidades. Beijinhos
Lançou o seu primeiro livro, é uma poeta nonsense, no género da Adília Lopes, se conheces!
Estou cheia de lirismos!
Beijos
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