Para quem fala o presidente
"Os próximos tempos podem ser insuportáveis para alguns dos nossos concidadãos, em especial os reformados e os desempregados", avisou ontem Cavaco Silva em Carregal do Sal. O presidente apelou ao "espírito solidário dos portugueses" e a um "diálogo frutuoso e construtivo" na AR de modo evitar "custos insuportáveis" para uma parte da população e a "preservar a coesão social e criar um ambiente social menos negativo" no país.
Ninguém contestará as palavras do presidente da República. Mas, para serem ouvidas por aqueles a quem se dirige e assobiam para o lado, não deveriam ter sido ditas e repetidas antes no Palácio de Belém ao primeiro-ministro? Acredito que Cavaco Silva já o tenha feito e que Passos Coelho conheça a sua preocupação com a "coesão social" e o "ambiente social negativo" que o OE gerará. Provavelmente até já a conheceria antes da elaboração do OE para 2012. Mas, se a ignorou até agora, porque haverá ela de lhe importar vinda de Carregal do Sal?
Já o apelo presidencial ao "espírito solidário dos portugueses", supõe-se que dos mais ricos, ficaria talvez melhor em algum dos fóruns empresariais a que Cavaco Silva regularmente vai. Talvez aí o mais rico dos portugueses, o "trabalhador" Américo Amorim, percebesse o que significa "solidariedade" (para os católicos, a virtude cardial da "liberalitas") já que, nos seus domingos de missa, nunca terá ouvido falar do pecado mortal da avareza.
Já o apelo presidencial ao "espírito solidário dos portugueses", supõe-se que dos mais ricos, ficaria talvez melhor em algum dos fóruns empresariais a que Cavaco Silva regularmente vai. Talvez aí o mais rico dos portugueses, o "trabalhador" Américo Amorim, percebesse o que significa "solidariedade" (para os católicos, a virtude cardial da "liberalitas") já que, nos seus domingos de missa, nunca terá ouvido falar do pecado mortal da avareza.