[Marc Chagall]
A Dra. Manuela Fleming fala sobre o seu livro, Dor Sem Nome e o sucesso editorial que obteve:
Provavelmente o meu livro Dor Sem Nome,
Pensar o Sofrimento fala de algo profundamente
humano e universal – a experiência da dor psíquica –
mas que se esconde, ou de que o Homem se esconde
(vivendo na ilusão de que não vendo ela não exista?...).
Somos cegos face ao que não podemos pensar, por ser
intolerável? Até onde pode ir a nossa consciência da
dor? Qual o limiar do pensável? Quando e em que
circunstâncias mentais paramos estarrecidos, a voz se
embarga, as palavras fogem e apenas nos socorremos
da linguagem do corpo e do olhar? Quando dizemos
para nós próprios “isto é de mais!”? Estas algumas das
questões que se me colocaram e sobre as quais senti o
desejo ou a necessidade de pensar...
Não é muito comum abordar-se a dor psíquica
numa perspectiva científica...
A dor, tal como a morte, une os seres humanos numa
experiência comum e inelutável. Estranhamente,
porém, o tema do sofrimento psíquico, ou da dor em
sentido lato, tem estado banido, rasurado da escrita e
apagado da linguagem científica. A minha qualidade
de psicanalista tem-me permitido ao longo dos anos
uma escuta muito fina e um contacto muito íntimo
com o sofrimento psíquico das pessoas que procuram a
minha ajuda terapêutica. Senti portanto que não podia
furtar-me à necessidade de estudar e investigar sobre o
tema, pela importância que a dor (no corpo e na alma)
assume na nossa existência e na prática clínica dos
profissionais de saúde. Apesar de
ser um livro essencialmente de teoria e técnica
psicanalítica, permite uma compreensão
alargada de algo indizível, inominável, uma dor que
não encontra palavras para se dizer...
A psicanálise é hoje um tratamento adequado a todo o
tipo de perturbação de natureza psicológica ou
psicossomática. Na prática, o tratamento é sobretudo
procurado por pessoas que já recorreram a outros tipos
de terapia (às vezes durante anos) e não obtiveram
melhorias satisfatórias, por pessoas que não querem ser
tratadas através de métodos muito intrusivos
(medicamentosos ou terapias de comportamento...) e
desejam sobretudo curar-se através do conhecimento de
si próprias, no contexto de uma relação terapêutica. Este
tipo de conhecimento de si próprio, o insight psíquico, é
um dos instrumentos de cura, já que conhecer-se, se, por
um lado, pode representar algum sofrimento (porque a
verdade sobre o próprio nem sempre é fácil de aceitar),
por outro é em si mesmo terapêutico...