Chegou e deslumbrou-se com as flores amarelas, que sentiu
como colorida brisa nos olhos, carícia de pétalas acetinadas e o mar lá mais
adiante, um mar imenso, azul, onde as nuvens, véus vaporosos, se espelhavam.
O seu olhar fixou-se na delimitação do mar e da terra,
naquele ponto onde confluíam emoções e um ténue tremer do corpo evadiu-a,
suspendendo-lhe os gestos!
Caminhou até ao bar, para lentamente, absorta das pessoas,
sorver um café concentrando-se nas ondas, no ruído sincopado do vai e vem,
riscado na areia.
Barcos, mar…lembrou-se, que quando passou no cais, viu uma
grande armação de ferro vermelho e sobre esse vermelho, pintadas a preto,
frases de Pessoa, passaram-lhe rapidamente pelos olhos, mas lembra-se desta, da
Ode Marítima do Álvaro de Campos.
Ah, todo o cais
é uma saudade de pedra!
Caminhou pelo passadiço, sem sentir os pés no chão
toda envolvida em fantasias, como Penélope tecendo em fio fino as voltas e
contravoltas de um rendilhado de sonhos, sempre feito e desfeito, olhos
cravados no infinito.
Cansou-se e entre rochas sentou-se olhando de vez
enquanto a pequena praia, ali a seus pés, intercalando com a leitura do seu
livro de companhia.
Nova Iorque era um espaço inesgotável, um labirinto
de passos intermináveis; mas independentemente da distância que percorresse,
independentemente de se ter familiarizado com as vizinhanças e as ruas, ficava
sempre com a sensação de estar perdido. Perdido, não apenas na cidade, mas
também dentro de si. Sempre que dava um passeio, sentia-se como se se deixasse
a si próprio para trás, e entregando-se ao movimento das ruas, reduzido a um
olho que vê, conseguia escapar à obrigação de pensar, e isto, mais de que
qualquer outra coisa, trazia-lhe uma certa paz, um salutar vazio interior. O
mundo estava no exterior de si, à sua volta, perante si, e a velocidade com que
o mundo mudava impossibilitava-o de se prender por muito tempo a uma única
coisa. O movimento era a essência, o acto de pôr um pé adiante do outro e
seguir a errância do seu próprio corpo. Todos os lugares se tornavam
semelhantes caminhando assim sem destino, e deixava de ter importância o sítio
onde se encontrava, estava em sítio algum. E isto, afinal, era tudo que pedia
às coisas: não estar em sítio algum.
A Triologia de Nova Iorque – Paul Auster
Olhou à volta o sítio onde estava, estava ali
naquele sítio, um sítio bem longe da cidade, mas perto de Nova Iorque e próximo
de todos os sítios de ilusão, não estando em sítio algum!
Em frente a capela da Boa Nova, onde num rochedo,
estava cravada uma placa, que tinha escrito:
E sentiu
essas palavras escritas outrora, nesse agora onde as palavras carregadas de
emoções sempre ecoam!
7 comentários:
Uma palavra sò: tudo isso è maravilhosamente escrito. Bem, nao é uma palavra sò, mas precisava de dizer-o.
Bye&besos
Que lindeza de imagens e palavras...adorei o post...
Beijos e boa semana,
Valéria
Ah Amiga!!!
Vc é uma artista!
Bjs.
BRAVO! adorei.
Bjs
E que passeio mais lindo que nos levaste a dar!!
Gostei de o rever , ponto por ponto!
Belíssimo o texto Manuela, as imagens e toda essas praias lindas que temos aqui tão perto da cidade e que cada vez estão mais deslumbrantes.
São sítios bem tranquilos, para nos perdermos assim numa leitura intercalada com essa sensação de estarmos num lugar único, que é o mesmo que não estarmos em lugar nenhum.
Beijos
Branca
O prazer da palavra escrita e da imagem estão-te na alma...
Beijo,pois. :))
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