Balada da neve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
Augusto Gil, Luar de Janeiro
20 comentários:
linda poesia sobre a neve!
Eu mesma só vi na tv mas deve ser muito bom quando cai feito chuva mansa e vai cobrindo o chão todo de branco!
bom sabado
beijo
Linda e comovente essa poesia.Profunda!beijos e um lindo fds!chica
Manu, jura que aí tá nevando???? Quero ir pra aí agora!!!! Aqui está um calor de matar mosquito que voa....ai, como queria ver a neve, sentí-la, olhar pela janela, com uma xicara de café nas mãos...coisa linda...e que versos lindos e tristes. Se o inverno aí for igual ao do ano passado, vai ser muito frio...e aqui, o verão escaldante do ano passado a se repetir...O planeta está mesmo louco...pobre Terra, beijos amada!
Bom dia Manuela,
Aqui em Aveiro faz um frio de rachar, mas neve nem vê-la...o que é um tristeza para mim, adoro a terra cobertinha de branco...o silêncio e a melancolia da neve.
Ensinaram-me a dizer essa poesia de cor...
Carinhos
E...um white Christmas!
E que bonita poesia, Manuela! Ainda a sei de cor, tal como sei um razoável número de sonetos de Camões, etc.. As minhas composições eram sempre feitas em verso. Era um tempo em que os estudantes eram estimulados a ler poesia. Hoje são poucas as pessoas que apreciam lê-la.
Bom fim-de-semana.
Tocante poesia, Manuela. Obrigada pela partilha. Um grande beijo, boa tarde :)
A neve faz parte do ideário da minha infância e adolescência em Trás-os-Montes. Convivi com crianças que andadavam descalças na neve. Naquele tempo, lá, andava meio mundo descalço.
abrs
J
Olá manúúúúuúúú, apesar de entrar para a escola já a perder a audição, lembro dessa canção linda, e eu imaginava os passos da chuva a perseguirem-me ehh que cagaço...
Acabei agora de arrumar a cozinha, a louça, e as azevias ficaram feitas cento e cinquenta e tal...o Nuno ajudou a estender a massa com uma máquina que me ofereceram, mais rápido, a massa fica da grossura que quisermos, é uma maravilha.
Beijinhos, se estivesses pertinho dava-te para provares..
Guardo no gelo e frito quando quiser, mas mais no Natal, sobra sempre e dou ás amigas, todas têm preguiça de as fazerem, dá muito trabalho, mas eu faço-as..
beijinhos da nina laura
Que "velhotas"nós estamos.Há quantos anos a aprendemos.Sempre bonita poesia.
Beijinho.
Poesia linda e imortal
Beijinho Manú.
Manuela, minha querida!
Que poema sublime!
Acabei em lágrimas, a leitura...
Muito, muito comovente!
Dos mais lindos que já vi...
Grata, amiga, pelo presente!
Imenso abraço
Bela poesia, Manuela.
Deve ser lindo ver de pertinho a neve, fazer bonecos, guerra de bolinhas, ah...rs!
Um abraço
Que linda amiga...
Morro de vontade de ver a neve.Nunca vi.
Acho maravilhosa a paisagem que ela causa.
Bjos achocolatados e lindo domingo pra ti.
Aprendemos de tal maneira que ainda a sei de cor... com a música!
Beijo, Manuela.
Pézinhos doloridos por caminhar na neve, mas não acho que o "Senhor" seja o causador e sim o homem que não é provedor destas crianças!
Triste e bela ao mesmo tempo!!
Bom Domingo! Beijus,
Linda poesia Manu. Senti tristeza e muito frio com a criança.
Não conheço neve e é uma das minhas grandes vontades.
Bjs no coração!
Nilce
Que lindo! gostava de ter por aqui um bocadinho de neve...
Bjs
Ah! que saudades do que se aprendia na Escola! E do que se ensinava? Desde 1963, ano em que saí Professora, tudo foi sendo retirado dos Programas. Saíram os textos dos nossos melhores Escritores, saíu a História, saíu a Tabuada (um dia conto as minhas Aventuras lá no Meu Estaminé), saíram as Ciências Naturais e a Geografia, em suma, deixou-se a Cultura para trás. E agora culpam-se os Professores porque não ensinam nada!
Desculpa o desabafo! Eu gostei muito de recordar este poema que ainda sei de cor. Bjs. Bombom
Lindo e delicado poema, Manu...
Olha, agora estou a te seguir de uma forma mais correta, pois achei o gadget dos seguidores e me coloquei por lá...
Terei as atualizações mais corretamente.
Desculpa da desatenção, é que sou assim, meio voadinha...
Um grande abraço, amiga
Maravilhosa e emocionante!
Gd. abraço, Manu.
Socorro Melo
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