
Juan Ramón Jiménez (1881-1958) - Poeta espanhol modernista, reconhecido pela sua prodigiosa beleza de expressão de vivências metafísicas, construindo um pessoal universo lírico. Uma das suas obras mais conhecidas é a elegia em prosa, Platero y yo. Em 1956 ganhou o Prémio Nobel.
Cada capítulo é uma história (poema) onde o homem surge a falar com Platero, sobre este ou sobre o que sente por este. A descrição emociona pela simplicidade e pureza, sendo, talvez, este o principal atributo desta obra. Cada história é uma reflexão sobre a vida em que a alegria e a tristeza surgem como face da mesma moeda, ambos os sentimentos aparecem com grande intensidade e como parte indissolúvel.
EXCERTO
"Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro. Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas... Chamo-o docemente: «Platero», e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...Come o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, todas de âmbar, dos figos roxos, com sua cristalina gotita de mel...E terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando nele passo, aos domingos, pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos, param a olhá-lo:— Tem aço...Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo."
“A lua vem connosco, redonda, enorme, pura. Nos prados sonolentos vêem-se, vagamente, não sei que cabras negras, entre os silvados… Alguém se esconde, discreto, ao passarmos… Sobre o vale, uma imensa amendoeira, nívea de flor e de luar, confundida a copa com uma nuvem branca, cobiça o caminho asseteado de estrelas de Março… Um odor penetrante de laranjas… Humidade e silêncio… A azinhaga das Bruxas…
- Platero, que… frio!
Platero, não sei se com o seu medo ou com o meu, trota, entra no regato, pisa a lua e fá-la em pedaços. É como se um enxame de rosas de cristal enlaçasse, querendo retê-lo, o seu trote…E Platero trota, encosta a cima, a garupa encolhida como se alguém o perseguisse, sentindo já a tepidez suave da aldeia que se avizinha…”
[COMO «O PRINCIPEZINHO», ESTE LIVRO TAMBÉM É PARA MIM, UMA PEQUENA JÓIA DA LITERATURA]