A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




domingo, 13 de fevereiro de 2011

O DESASSOSSEGO DE BERNARDO SOARES....


PAISAGEM DA CHUVA



Em cada pingo de chuva a minha vida falhada chora na natureza. Há qualquer coisa do meu desassossego no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra.


Chove tanto, tanto. A minha alma é húmida de ouvi-lo. Tanto... A minha carne é líquida e aquosa em torno à minha sensação dela.


Um frio desassossegado põe mãos gélidas em torno ao meu pobre coração. As horas cinzentas e (...) alongam-se, emplaniciam-se no tempo; os momentos arrastam-se.


Como chove!


As biqueiras golfam torrentes mínimas de águas sempre súbitas. Desce pelo meu saber que há canos, um barulho perturbador de descida de água. Bate contra a vidraça, indolente, gemedoramente a chuva; (...)


Uma mão fria aperta-me a garganta e não me deixa respirar a vida. Tudo morre em mim, mesmo o saber que posso sonhar! De nenhum modo físico estou bem. Todas as maciezas em que me reclino têm arestas para a minha alma. Todos os olhares para onde olho estão tão escuros de lhes bater esta luz empobrecida do dia para se morrer sem dor.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.

11 comentários:

lolipop disse...

Sempre muito bonito Manú...embora transpire angústia...e desacerto...com o tempo...com a vida...
Um domingo sossegado...
Beijos

Beth/Lilás disse...

Bom dia, amiga Manú!
Bernardo Soares passa toda a tristeza, solidão e frio em sua vida,
muito bem retratado no texto.
Mas, o meu post de hoje vai na contra-mão deste, ou seja, tem o brilho e esperança para um novo dia.
Que seu dia seja brilhante em seu coração, mesmo que lá fora não tenha sol!
beijinhos cariocas

Hugo de Oliveira disse...

O livro do Desassossego é maravilho. Tenho ele aqui arquivado em meu pc.

Abraços

Ana Echabe disse...

Oh... Manu querida

O dessossego de Bernardo em mim se fez tal qual, com direito a chuva que se destrona inutilmente por sobre a terra, esta que tbm de elemento é terra.

Bjinhos feito esta chuva de verão que parece não querer cessar, aqui.

Cris França disse...

Manu

sabe que dividimos o gosto por Pessoa, poeta que sabia traduzir o que vai dentro da gente tão bem.

Deve estar bem frio por ai, aqui estamos sofrendo um calor abrasador, do qual não gosto

tenho corrido muito, vim apenas para deixar um beijo, e para tu saberes que não te esqueço

bjs

Unknown disse...

Lindíssimo texto.

Beijo.

Glorinha L de Lion disse...

Manu, minha amada amiga, esse Fernando Pessoa sabia tudo sobre a dor que chove dentro da alma dos poetas...como sempre soube descrevê-las bem...tb me sinto assim, às vezes...Mas não hj! beijos querida amiga,

Laura disse...

Hoje quero saber da vida, do dia feliz que devia ser para todas as mulheres e não o é, para muitas traduz-se em dias doridos em sonhos sonhados apenas e nunca vividos... Nem sei porque lhe chama o dia dos namorados se cada vez se vêm mais namorados separados e outros com desejos de o fazer, mas, reprimem-se, a vida é o que é e continuamos a sonhar que um dia teremos dias felizes para festejar.

Um abraço da laura

Penélope disse...

Linda amiga, obrigada por deixar teu carinho no dia de Aniversário do meu INFINITO.
Beijinhos.

E tua postagem hoje está belíssima e profunda, pois Bernardo Soares para mim é sempre inquietante... meu bom guardador de livros.

By Me disse...

Tudo aqui é poesia...densa...orvalhada...
chorosa,pesada...desgraçada....
fatalista ou não fosse ele um certo Fernando Pessoa...e eu vejo-me nessa água,nessa paisagem a preto e branco...rolando aquosa...nas margens desse desassossego que é dele e tão meu...
Beijo gota a gota:)))

Socorro Melo disse...

Oi, Manu! Como vai você?

Um ótimo texto, bem construído, porém, triste, e um tanto mórbido, não acha?

Mas, a estação gelada, e chuvosa, também mexe com o nosso emocional.Quem sabe foi isso que o autor sentiu, né?

Beijos :)
Socorro Melo