Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura,
a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto
— Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito
o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
4 comentários:
Embora nem todas as cabeças sirvam pra alguma coisa além de estar acima do pescoço...
Beijos
Às vezes nos cansamos, porém, devemos continuar... sempre em frente!!
Querida amiga, tenha uma bela semana!!
Beijo!
Obrigada Glorinha e Regina...às vezes dá assim um cansaço, cansaço...ao ver certas coisas desagradáveis, mas evidentemente que isso não quer dizer desistência.
Beijinhos,
Manuela
É preciso não deixarmos que o cansaço nos vença. É difícil, mas é possível...
Beijo
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