A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

COMO CAÍ NESTE MUNDO...













Nasci fruto de um segundo casamento dos meus pais, os dois tinham enviuvado devido aos seus parceiros terem contraído a pneumónica. Quando nasci o meu pai tinha 52 anos e 2 filhos homens, um deles seria pai, pela mesma altura que eu nasci, portanto tenho um sobrinho da minha idade. A minha mãe tinha 35 anos e uma filha de 10 anos do anterior casamento. Eu apareci e foi o reboliço familiar. Os meus irmãos pediram a sua parte na herança e foram para o Brasil e eu nunca os conheci. O lado da família do primeiro marido da minha mãe também não me aceitou, mas a minha irmã viveu sempre connosco e só tem a dizer maravilhas do padrasto, que sempre tratou por pai. Eu já não tinha avós, a minha irmã tinha avós e uma tia solteirona, mas eu nem lhes podia chamar avôs, nem tia, sempre me disseram que eles não eram meus, eles não queriam esse tratamento e eu já nem sei como os tratava, à tia ainda chamava pelo nome, a eles não devia chamar nada e mesmo em convívio pouco falava com eles. Sempre que ia lá a casa o que eu gostava era de estar com a empregada e brincar com o cão, o Suite. Essa família da minha irmã protegia-a bastante e todos os anos levavam-na a passar férias, mas recordando eu não me importava muito, creio que preferia ficar com os meus pais. Existiam outros familiares dos meus pais, umas tias e uns primos, essa era a minha família, mas também não era a de maior convivência. Os meus pais deram-me uma infância muito boa. Sempre foram muito bons para mim. Para o meu pai, fui mesmo a menina do «papá» e o meu pai foi a pessoa mais excepcional que conheci na vida, aliás não só para mim, toda gente gostava muito do meu pai.
Muito mais tarde, o meu pai fez as pazes com os filhos, não sei, mas a iniciativa devia ter sido dele, porque era muito boa pessoa. Reataram correspondência. O que tinha ido para o Brasil já casado, sei que teve 4 filhos e era director da Coca-Cola, o outro casou lá com uma mulher rica, tinha uma empresa e teve dois filhos. O meu pai gostava de me mostrar as cartas, escrevia sobre mim nas cartas para eles, o seu desejo era uma aproximação. Um dia as minhas cunhadas vieram a Portugal e uma delas trouxe dois filhos. Eram todos muito simpáticos, mas depois de uns dias lá foram embora. Fiquei a corresponder-me com uma das minhas cunhadas. Passados mais uns anos, uns bons anos, o meu pai já tinha 80 anos, recebeu o convite de um dos filhos para ir ao Brasil. Esteve lá três meses, que foram o máximo para ele, de facto quando chegou cheio de fotografias e slides, a sua alegria era transbordante. Passados quatro anos o meu pai morreu, enviei um telegrama a comunicar, que não teve qualquer resposta. Nessa altura triste e desesperada pela morte do meu pai, rasguei as cartas todas e fiquei sem qualquer contacto, até hoje. Da parte deles também não recebi qualquer carta, realmente eu para eles não existia.
Isto sempre foi algo que me pesou, quando de vez enquanto pensava nisso, ter sido rejeitada por várias pessoas e ter irmãos que nunca conheci, a não ser por muito poucas fotografias antigas! Numa dessas fotografias vejo um indivíduo de boa aparência, sentado num banco de jardim, este tinha o nome de António, (diziam que eu era parecida com ele) o outro mais velho, chamava-se Alexandre e a visão que tenho é de um homem vestido de oficial do exército, com uma cara carrancuda. Estas são, as identidades que tenho, dos meus irmãos. Às vezes também penso, que contrariei o desejo do meu pai, de uma convivência, ao menos por escrito, mas na realidade nada podemos ser a quem não nos quer. Nunca fui ao Brasil e nem sei se um dia irei!

18 comentários:

Cátia disse...

Querida Manuela,

Muitas vezes somos ou provocamos rebuliços que até poderão trazer sofrimento a outros.. Mas que bom que apareceste! E tendo em conta tudo isto.. espero que vivas uma vida em pleno!

Beijinho grande,
CA

Glorinha L de Lion disse...

Manu, que estória triste! Quanta ignorância, falta de sensibilidade! Você era uma criança, e a que menos culpa tinha no caso todo!
Fico besta de ver casos assim...meu marido tb tem um irmão só por parte de pai...O pai dele aos 18 anos engravidou uma mocinha em Portugal, veio pro Brasil e só anos mais tarde, meu marido e os irmãos souberam que tinham outro irmão...ele veio de Portugal trabalhar com o pai, mas sempre foi mantido meio à distância dos irmãos...coisa mais esquisita!
Não entendo esse tipo de percepção que as pessoas tem das coisas...como não amar, conviver com um irmão, mesmo que só por parte de pai...Tem gente que parece ter coração de pedra...Ainda bem que vc superou isso tudo, afinal, não se deve dar importância a quem nos rejeita e não nos quer bem.
Beijos minha querida... Tenha aqui, uma amiga sincera, e, quando quiser vir ao Brasil, minha casa é sua!

Maria disse...

Admiro a forma como te expuseste neste post. A ti, aos teus sentimentos e à tua família. Família de sangue. Porque depois há a outra, a família dos afectos, tão importante (ou mais) do que a outra.
Costumo dizer que a família nos é imposta - digo-o há mais de 45 anos - mas que os amigos escolhemos nós...
Pois, sempre fui a rebelde e a 'fora do esquema' socialmente aceite.

Ficaria aqui a escrever, mas não é o tempo. Ainda.

Abraço-te, Manuela

anniehall disse...

Muitos de nós caimos no mundo e por aqui vamos vivendo sempre com a nostalgia de uma familia . Mas vamos em frente e criamos uma nossa :)
Se fosse a si tambem não ia ao Brasil .
Beijos e um bom fim de semana.
Annie

Benjamina disse...

Olá Manuela
Uma história de desencontros que bem poderiam ter sido encontros. Mas o que vai na alma de muita gente não é o que se esperaria, mas muitas vezes o produto de circunstâncias alheias, que assim vão formando (e por vezes deformando) personalidades.
Não sei o que é isso, mas imagino que deve custar um bocado ter irmãos de sangue, não os conhecer, nunca lhes ter feito mal e sentir que a rejeição.
São projecções de sentimentos mal resolvidos, talvez a perda de uma mãe associada a uma nova vida do pai.
Digo eu, que nada percebo do assunto. Mas compreendo que fique alguma mágoa em quem se sente assim esquecido, é natural e humano.

Um beijinho e bom fim de semana

Anónimo disse...

Belíssima história de vida, mas deixe-me que lhe pergunte: está a contá-la hoje por algum motivo especial. Sei lá... será o dia do seu aniversário?
um bom fds

Elaine Barnes disse...

Menina que história hein! Um vez num desses dramas de amor em família ouvi o Gasparetto falar na TV que ninguém é obrigado a amar ningué,nem pai ao filho e nem filho ao pai ou irmãos.Fiquei pensando que ele tinha razão,como amar alguém que não se importa conosco,que não partilha sua vida, que não nos inclue com amizade e amorisidade,não sente os vínculos? Ainda bem que você teve um pai ~que a amou e a mãe tb. Hoje tenho certeza que você deixa um bem,deixa vínculos por onde passa através da sua bela comunicação e expressão.Dentro de você tem coisas belas que nos tras em cada texto,poesia,prosa...Por isso amiga, reconhecendo seu talento e dom divíno te ofereço um prêmio que está lá nos amigos e mimos da coruja.http://amigosemimosdacoruja.blogspot.com/ Sita-se a vontade para recusar. O importante é saber que te gosto. bjs

Cris França disse...

Fico sempre boba de ver coisas , também tenho laços familiares frouxos e não consigo falar muito a respeito.
O ser humano é capaz de amar um estranho, mas não ama o sangue do seu sangue, e isso doi, sei que doi.
Pelo menos eles tiveram a descencia de tratar bem o teu pai e fizeram ele feliz, um espaço que sempre dá nos paz antes da morte.
Mas você é você, Manu, fez-se sozinha, e nunca precisou daqueles que achavam que tu precisaria deles.
Eles te fizeram foi um favor te tornaram essa mulher forte, indenpendente e inteligente, e te deixaram em paz para aprender as coisas perto do papa.
E acho que você não contrario o desejo de ninguém não, viveu sua vida, formou sua familia, que mais um pai pode querer para um filho a não ser que ele seja feliz.
Então seja feliz Manu.
Sempre!

bjs meus.

c.a. (n.c.) disse...

Olá, Manuela.
Compreendo a sua tristeza, por ter sido injustamente penalizada por factos a que é totalmente alheia e por, até hoje, os seus irmãos não terem percebido isso.
Seja como for tem uma irmã que, tanto quanto me parece, é sua amiga, e tem, concerteza, muitas outras pessoas que a apreciam e que gostam de si. E essas, afinal, é que contam. Não será assim?
Bjs

Me disse...

Minha querida amiga, como me ensinou minha mãe: os verdadeiros laços, são os espirituais... esta sem dúvida é a afinidade que devemos preservar e manter cativo em nossos corações!!!
bjos, ótima findi!
ah, espero que um dia o Brasil seja premiado com sua visita!!!rsss

Regina disse...

Querida Manú,

Sua história me comoveu... Família é sempre muito complicada mesmo...

Todas as famílias têm problemas, outras mais, outras menos, mas é comum e normal, visto que as relações humanas são muito complicadas, especialmente quando se tem uma intimidade muito grande, que é o caso das famílias...

Mas o mais importante de tudo é que você esqueça as mágoas do passado e viva feliz com a família atual que você constituiu e que tenho certeza, é linda, assim como seu coração...

Sejas sempre muito feliz, vivendo um dia de cada vez, vivendo o presente!!

Beijo, bom fim de semana!!

ney disse...

Em sua mensagem você deixou fluir os mais profundos sentimentos. E isso revelou sua capacidade de entendimento e de transformar tudo em luz (LIGHT). ney/

Graça Pereira disse...

Querida Manuela
Ao contares assim a tua vida com toda a simplicidade e muita mágoa, só mostras a pessoa sincera e íntegra que és e que eu tenho muita honra em receber na minha casa virtual e não só! Há pessoas como tu que o sofrimento ainda as torna mais grandiosas.
Obrigada Amiga, pela tua confiança. Que saibamos todos aqui merecê-la e repeitá-la.
Um beijo carinhoso
Graça

Manuela Freitas disse...

A todos, que tiveram paciência para ler este longo relatório e me prendaram com palavras tão intensas e profundas, um obrigado do «peito».
Não é habitual escrever aqui, sobre a minha vida pessoal, mas há momentos de retrospecção e como estive a ver fotografias antigas, comecei a escrever, a escrever...e saíu.
Apesar de tudo isto, não tive uma infância infeliz, tive até uma infância muito feliz e fui muito «mimada», aliás digo isso no que escrevi. Fui amada e odiada, mas como era uma criança não dava qualquer importância a isso.
Muitos beijinhos para todos e obrigado pela vossa sensibilidade e amizade,
Manuela

Paula Raposo disse...

Um desabafo que me permitiu conhecer-te mais um pouco. Obrigada.
Beijos.

Ana Paula Sena disse...

Obrigada pela partilha, Manuela :)

As histórias de vida, com os seus encontros e desencontros, são sempre de uma riqueza fantástica.

Que o coração possa guardar apenas os afectos que realmente contam, e a memória somente o percurso sinuoso da existência...

Um grande beijinho

Elaine Barnes disse...

OIE! Meu netinho é a coisa mais fofa do mundo em simpatia e alegria,ele está sempre rindo para todo mundo e tb para essa vovó coruja aqui rs...
Relembrando que tem um prêmio pra você lá nos amigos e mimos da coruja tá!
http://amigosemimosdacoruja.blogspot.com/2010/01/selo-premio-superior-scribbler.html#comments

Nes disse...

Hola Manuela, a verdade que me sorprendin o leer o teu artigo, alegrome de que o fixeras, por que das a coñecer moito de ti, o tema da familia eche moi complicado, digo por que a min me ensellaron de pequeno que debia ser todo union, co tempo comprobei que de union nada de nada, dise que os amigos escollense, pero a famila tocache, un biko.