(imagem: charquinho.weblog.com.pt/.../index0)
Em todos os sítios há um figurão, uns chamam-lhe tolinho, bêbado, marginal, drogado…O Manel encharca-se de álcool é verdade, e se o álcool é droga, fica drogado e faz disparates, também é mesmo um militante marginal. Todos gostam do Manel, ele «quase» não precisa de pedir, toda a gente lhe dá comida e de vestir. O Manel, não é agressivo, nem diz palavrões, mas é muito brincalhão, gosta de fazer partidas. Quando está com os copos, fala, fala e pouco se percebe. De vez enquanto desaparece, até já o deram como morto, mas acaba por regressar, bem vestido, cabelo cortado, barba feita…ele foge a sete pés de estar fechado e controlado. Ele gosta da rua, de dormir em qualquer lado, de beber uns copitos. Quando a sua linguagem é decifrável gosto de falar com ele, é sempre uma conversa de loucos. De manhã no café, lá está ele, dão-lhe o café e qualquer coisa para comer e quando eu chego é sempre o mesmo «uma croa», precisa de ir angariando para a bebida, quando alguém lhe diz, «não, é para comprares vinho», ele chateado, olha para a pessoa e replica «és muito feia, és tão feia!» Se for homem é a mesma coisa e se usa gravata tem que ouvir, «olha para ele, o finório c’o trapo, vais à madrinha?»
O pior do Manel são as suas brincadeiras, quando está bebido e o que ele gosta bastante é de tocar às campainhas, atravessa fases, que chateia bastante e a altas horas da noite. Também sou uma vítima. Tanto toca que já tenho ido à varanda, chateada: «Manel vou chamar a polícia». Olha para mim com aquela cara de patusco e... «olha, olha, vai chamar a polícia, chame, és muito feia?!...» Que se há-de fazer, ele está a marimbar-se para tudo, quer lá saber da polícia, ele não quer saber de nada!..Se o Manel desaparece, anda tudo para aí preocupado a perguntar por ele. Depois há invenções, foi atropelado, levou uma coça, morreu…Até se vai perguntar aos arrumadores-drogas por ele, mas o Manel não faz parte dessa «pandilha», o Manel é bem o «pardalão cá do sítio», sempre contente e bem disposto.
10 comentários:
Mas tem sempre um "Manel" pelas cidades. Aqui em Niterói tivemos, há muitos anos, o Silvoca, o Gasolina, o Três Arrancos, esses chegados a uma bebida alcoólica. Passavam pelas ruas chamando a atenção da população, falando alto, às vezes dizendo palavrões, porque os mais jovens sempre ficavam de gozação com eles. Até que surgiu o "profeta GENTILEZA", com sua túnica branca e longa barba. Esse ficou famoso, citado em livros, músicas... http://pt.wikipedia.org/wiki/Profeta_Gentileza
Hoje as ruas ficaram violentas, até essas figuras sumiram de circulação.
Bela postagem, lembrando essas figuras das ruas, que também marcaram nossas vidas. Abraço/ney.
São figuras de nossas vidas esses Manels... Quando jovem, tinhamos um bem ao jeito do Manel, lá na nossa rua. Chamavam-no Carioca e era de uma sensibilidade à flor da pele. Quando se foi, deixou um vazio...
Beijos
Aqui onde moro não há Manéis assim - há os outros de quem temos medo. Na minha terra havia, e há ainda, um Manel, que se chama Zé.
Não conheço esse Manel, mas já gosto dele...
Um beijo
Quando menina, tinha um mendigo, negro, mas tão negro como a noite...que andava com um gato debaixo do braço, bêbado (ele, e não o gato...rsrsrs)e dizendo: dá um beijinho ni papai e beijava o pobre do gato mil vezes...Eu tinha medo dele como o diabo da cruz...Seu nome ficou entre a criançada: "lá vem o beijo ni papai"...e saía todo mundo às carreiras se escondendo do infeliz...
Hoje, aqui no Rio se corre é de bandido...e da polícia tb!
Bons tempos em que se corria dos bêbados...
Beijos
Aqui em Poços de Caldas tem tbem um Manel,
bebe demais, fica pelas ruas, moço lindo...É uma judiação.
De vez enquando some tbem volta limpinho...E mais bonito, mas logo está de novo caido pelos passeios.
É de dar pena.
Mas algumas pessoas não querem mudar ou não conseguem neh amiga?
Amei teu texto me fez refletir e me lembrar do nosso manel.
Bjos querida.
Meu coração caminha com você
aqui o Manel se Zé da Pedra, a dias venho pensando em escrever sobre ele, mas falta-me tempo , inspiração ou sei lá o que...rs
muito criativo! bjs
Quando vim para Lisboa, dormia debaixo da janela do quarto do lar onde eu estava, um mendigo de que me lembrei, graças ao Manel. Chamavam-lhe o VilaReal (nunca soube porquê) e era um patusco, mas quando estava bêbado tornava-se insuportável.
Há sempre um Manel...
Aqui, temos um daqueles " Manel" que até fala em verso, compondo quadras populares.
Também existe aí algum?
Um abraço.
Rolando
Manuela
Como já foi bem dito por ti e por todos os demais amigos, em todos os prados existem um Manel qualquer, por vezes, com nomes e alcunhas diferentes, por vezes, com caracteristicas distintas, mas, na essência, a mesma coisa.
O mesmo querer agarrar-se a vida, o mesmo desprezo pela vida por afogar suas incapacidade num copo de alcool, conheci um manel, algum tempo atrás, sujeito simplório, boa praça, que incomodava sim e fazia falta quando desaparecia...
Um dia, sumiu de vez!
Cade ele, perguntaram todos.
Encontraram embaixo de uma árvore qualquer, ao lado a ultima garrafa vazia, um copo quebrado na mão direita, os olhos abertos pregados no céu azul como se não acreditando que sua hora havia chegado... Tanto bebeu que afogou sua existência na cachaça!
Belissimo post!
Lindo texto!
Amo os textos que nos faz viajar nas experiencias do próprio autor, que nos faz ressuscitar nossas próprias... teu texto conseguiu ambas as coisas, minha querida amiga!
Estejas bem agora e sempre!
Querida Manú,
Gostosa crônica sobre o "Manel"!!
Seu texto fez-me refletir sobre os vários "Manéis" que já vi passarem por aí... E exatamente do jeitinho que descrevestes!...
Não sei se sentimos por eles ou eles é que são felizes ao seu modo!! rsrs...
Beijos!!!
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