Podia chamar-te pai, asa de fogo, planta agreste,
alpendre aberto ao feitiço das estrelas.
Podia aninhar-me no casulo do teu abraço
e adormecer com o mistério que alimenta as tuas lendas.
Podia recordar os nomes dos rios e das serras
e das linhas secundárias que cruzam vales e montanhas.
Podia perguntar pelos teus filhos
esquecidos há muito nas errâncias deste mundo.
Podia querer interpretar a tua melancolia
como um sinal de saudade da grandeza perdida.
Podia reabrir, em página incerta, os teus livros raros,
os dos poetas que engrandeceram as título póstumo,
como os heróis, em pátria de carpideiras
e de oficiantes da mais daninha e entranhada inveja.
Podia entrar nas tuas casinhas baixas,
as de granito e as pintadas com a mansa alvura da cal.
Podia afagar-te as barbas brancas
que se tornaram salgadas no fragor das batalhas.
Podia desenterrar os teus mortos
só para saber que sonhos traídos os levaram à cova.
Podia desmascarar os vendilhões que falam em teu nome
como se falassem de negócios reles numa banca de feira,
Podia perguntar-te porque atravessas cabisbaixo
os largos das aldeias desertas e queres saber
o paradeiro dos teus filhos silenciosos e distantes,
daqueles que tomaram outros rumos
com a dor da tua ausência a ferir-lhes o peito.
Podia deitar-me ao teu colo
como se me deitasse na cama de urze
à beira dos promontórios que vigiam as fúrias do mar.
Podia chorar no teu ombro cansado todas as desditas
que foste obrigado a consentir e a calar.
Podia contar aos meus netos os feitos
do Gama, de Magalhães e de Cabral
e desenhar um mapa de glórias navegantes
só para eles saberem que um dia
usaste a efémera coroa de algas dos reinos do mar.
Podia pedir-te e dar-te contas
de tudo aquilo que sonhámos e não alcançámos.
Podia fazer tudo isso e muito mais,
mas prefiro vislumbrar na tristeza dos teus olhos
a ternura com que segues o rasto das aves e das estrelas
e depois abraçar-te e dizer-te: meu querido Portugal,
serás, até ao fim, a luz que não se apaga nem se rende
quando sonhamos com tudo aquilo que ainda te falta ser.
alpendre aberto ao feitiço das estrelas.
Podia aninhar-me no casulo do teu abraço
e adormecer com o mistério que alimenta as tuas lendas.
Podia recordar os nomes dos rios e das serras
e das linhas secundárias que cruzam vales e montanhas.
Podia perguntar pelos teus filhos
esquecidos há muito nas errâncias deste mundo.
Podia querer interpretar a tua melancolia
como um sinal de saudade da grandeza perdida.
Podia reabrir, em página incerta, os teus livros raros,
os dos poetas que engrandeceram as título póstumo,
como os heróis, em pátria de carpideiras
e de oficiantes da mais daninha e entranhada inveja.
Podia entrar nas tuas casinhas baixas,
as de granito e as pintadas com a mansa alvura da cal.
Podia afagar-te as barbas brancas
que se tornaram salgadas no fragor das batalhas.
Podia desenterrar os teus mortos
só para saber que sonhos traídos os levaram à cova.
Podia desmascarar os vendilhões que falam em teu nome
como se falassem de negócios reles numa banca de feira,
Podia perguntar-te porque atravessas cabisbaixo
os largos das aldeias desertas e queres saber
o paradeiro dos teus filhos silenciosos e distantes,
daqueles que tomaram outros rumos
com a dor da tua ausência a ferir-lhes o peito.
Podia deitar-me ao teu colo
como se me deitasse na cama de urze
à beira dos promontórios que vigiam as fúrias do mar.
Podia chorar no teu ombro cansado todas as desditas
que foste obrigado a consentir e a calar.
Podia contar aos meus netos os feitos
do Gama, de Magalhães e de Cabral
e desenhar um mapa de glórias navegantes
só para eles saberem que um dia
usaste a efémera coroa de algas dos reinos do mar.
Podia pedir-te e dar-te contas
de tudo aquilo que sonhámos e não alcançámos.
Podia fazer tudo isso e muito mais,
mas prefiro vislumbrar na tristeza dos teus olhos
a ternura com que segues o rasto das aves e das estrelas
e depois abraçar-te e dizer-te: meu querido Portugal,
serás, até ao fim, a luz que não se apaga nem se rende
quando sonhamos com tudo aquilo que ainda te falta ser.
11 comentários:
Grande José Jorge!
Já conhecia os seus livros para a infância de grande qualidade, mas a sua poesia só a descobri há pouco tempo. Fiquei rendido.
Beijo :)
que poema maravilhoso! aqui é raro achar homens que tecem poemas à patria, os poucos hinos que temos, nem sabemos a letra toda, so nesse aspecto admiro os americanos, são tão mais patriotas. beijos querida
É engraçado, pela coincidência, que ainda hoje me aflorou ao pensamento um sentimento idêntico a este que aqui reproduzes. Claro, quem sou eu para dizer coisas tão profundas e acertadas como este poema de José Jorge Letria! Mas sinto-o bem cá no fundo da alma. Talvez um dia consiga que me aflore aos lábios e então serei capaz de outro poema!
Obrigada pela tua visita ao Meu Estaminé. Sinto-me muito honrada e feliz com o teu comentário. Bjs. Bombom
Que bonita publicação, Manuela!
O nosso país é, apesar de tudo o que nele devemos criticar, um lugar maravilhoso. Vale bem a pena lembrá-lo.
Votos de bom fim-de-semana, e um beijinho amigo :)
Lindo poema. Vou comentara parte final."meu querido Portugal,será até ao fim,a luz que não se apaga nem se rende."
Será que o vão deixar avançar até aquilo que o poeta diz que ainda lhe falta ser?
Beijo.
Portugal será maior enquanto houver poetas que o digam assim!
Não conhecia e gostei! Obrigada!
Um beijo *
Manu
Texto lirico dos mais lindos que já vi!
Meu lado portugues estufou o peito de orgulho ao ler tão belo texto!
Grato Manu e parabéns pelo post!
Muito lindo Manú!
Bjs.
Amiga Manuela,
Que lindo este poema, não conhecia!
E Portugal é mesmo uma fonte inesgotável de grandes poetas, aliás quase todas as pessoas que conheci de nacionalidade portuguesa sabem poetar ou declamam alguma poesia. Acho isso tão bonito!
bjs cariocas e ótima semana!
Que coisa mais linda Manu, me arrepiei toda ao ler. Que sentimento, que profundidade e no, entanto, quanta tristeza nessas palavras tão doídamente sofridas. lindo! bjs.
E um dia o ainda falta ser, já era, leva tempo mas chegará..O Homem acabará por ver que só sendo assim a vida avança...
Beijinho da laura
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