Um filme operático, onde é inevitável pensarmos em Visconti ("O Leopardo") em Bergman(«Fanny e Alexander») e outros…Luca Guadagnino, reinventa o melodrama clássico, a saga familiar num tempo onde eles já não existem.
No início, depois de visualizarmos uma paisagem de neve, melancólica nos seus cinzentos, um palacete vai surgindo mais nítido e penetrando no seu interior temos um contraste com o calor da madeira, das luzes, do movimento das pessoas. Um interior clássico cheio de preciosismos. A família vai-se reunir para o aniversário do patriarca, o ambiente é aristocrático, focando um cruzamento entre os empregados e os senhores. A um núcleo mais conservador, sobressai o núcleo mais jovem, menos convencional. A refeição é um cerimonial de elite e a atenção prende-se às conversas soltas e principalmente aos olhares. Há um mistério que se começa a insinuar e o foco vai para Emma, (excelente Tilda Swinton). Uma mulher, que parece ser uma líder de tudo que se passa ou uma submissa perante as contingências. Uma mulher que está em foco e simultâneamente mergulha na privacidade, ficando só ou com a sua empregada. Emma, que nasceu na Rússia e casou com o único filho de uma poderosa família industrial milanesa, revela-se como «um corpo estranho» dentro daquele cenário.
O patriarca, nessa festa em homenagem ao seu aniversário, vai delegar a sua posição empresarial no filho e num dos netos. Durante essa cena, abrem-se todas as perspectivas para o desenvolvimento posterior das personagens principais, o casal e os seus filhos.
A frieza e sobranceria do marido de Emma. A insatisfação e inquietação de Emma. O sentimentalismo do filho mais velho, (o herdeiro), para além das questões sociais, (a mulher que ama e convida para o jantar, um amigo que estima e com quem perdeu um «jogo», a maior proximidade e cumplicidade com a mãe). A mudança das opções afectivas da filha. A presença decorativa e nunca participativa do outro filho. A chegada de António, um cozinheiro, com quem Leo perdeu uma «partida» e que vem entregar um bolo feito por si. Emma vê de relance esse visitante inesperado, que nem sequer fica para tomar café.
Se dissermos que Emma se vai apaixonar por António, que lhe dá uma perspectiva de vida campestre e muito simples, deixando a família, parece assim um romance banal, mas o realizador elevou o filme ao estatuto de obra-prima, pela sua abordagem operática, virtuosa, formalista, estilizada, hiper-romântica e pós-modernista. É fabuloso o modo como ele se instala no classicismo, através de Tilda Swinton e também como esta chega a uma sensualidade exacerbada que se opõe à rigidez estruturada do palacete dos Recchi. Guadagnino mantém essa emoção a borbulhar subterraneamente durante todo o filme sabiamente sublinhada pela música do compositor minimal John Adams.
Muito interessante a sequência, onde Emma está na cama com o marido e pela televisão passa Maria Callas, interpretando a ária da "Mamma Morta" de Giordano, na banda-sonora do "Filadélfia" de Jonathan Demme. A frase que Callas canta é "Io sono l'amore" e é nesse momento que Tilda toma perfeita consciência do seu papel na poderosa família milanesa. Ela é a verdadeira "mamma morta", ela não é o amor ali e, ela quer ser o amor.
Elenco impecável onde encontramos o actor e encenador Pippo Delbono e os veteranos Gabriele Ferzetti e Marisa Berenson.
7 comentários:
Olá Manu querida!
Vim desejar uma belíssima semana e um segundo semestre maravilhoso!!
Beijos
Uauuu, Manú!
Deu vontade de assistir ao filme!
Maravilha de sinopse!
Beijo grande
Astrid Annabelle
Quero ver esse filme!!! Amei a dica, Manu!
Beijos,
Dani
Minha Cara Manú
Ainda não tenho notícias desse filme por aqui...vamos aguardar, gostei bastante da sinopse, um drama italiano bem do meu jeito!
Obrigada pela dica,
Um abraço,
Boa semana!
Envolvente a tua sinopse.
Beijo.
Hum...abre o apetite:)
Beijinhos*
A SINOPSE É ÓTIMA VAMOS AGUARDAR O FILME!
BEIJO
BOA SEMANA!
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