Andei pelo Hospital de Santo António e contrariamente às queixas que por vezes leio nos jornais, eu não tenho absolutamente nenhuma queixa a fazer e não tive os tais «conhecimentos»!.. As instalações, pelo menos em cardiologia, são muito razoáveis e se eu comparar, como eram há uns anos, em que o meu pai teve que estar lá hospitalizado meses e, apesar de na altura ser uma miúda, lembro-me muito bem de quão decrépito era o hospital, com as suas camas de ferro sem cor definida e umas enfermarias enormes, onde os doentes por vezes não podiam dormir, com outros ao lado a morrer.
Relativamente aos médicos, enfermeiros, auxiliares, mensageiros, a todo o pessoal que trabalha só posso dizer o melhor possível. Tive todas as informações necessárias, inclusivamente frente a um cartaz onde se encontrava um coração aberto, o Prof. Chefe da Unidade, explicou-me, a situação em que se encontrava o meu marido e o que iam fazer.
Claro que ontem o meu marido, que se encontrava nos cuidados intensivos, era o primeiro logo de manhã a fazer um cateterismo e só acabou por o fazer às 18 horas, mas isso deveu-se às urgências que ocorreram e de vidas em situação de maior perigo, que tinham que ser salvas, já que nestes casos o tempo é importante.
Andando por lá, pude apreciar muita coisa. Por exemplo, logo na sala de espera, uma senhora idosa numa cadeira de rodas, acompanhada de uma rapaz e de uma mulher. Esta mulher passou todo o tempo a ralhar com um e com outro, naquela voz agressiva e rouca, das pessoas que estão sempre a falar aos berros. Uma mãe com um filho irrequieto. A criança subia e descia da cadeira, punha-se em pé na mesma. Gritava, espoliava-se e a mãe sempre a ameaçar em altos berros, a ameaçar…até que num repente lhe dá uma valente chapada na cara. Lá ficaram os dedos marcados. A criança chorou, berrou e chorou…A educação dá-se em casa, o amor aos filhos, não é só deixar fazer tudo o querem, darem-lhe toda a espécie de guloseimas, beijocarem-nos muito…é muito importante ensinar-lhes o trato social, as boas maneiras, saberem respeitar os locais onde estão.
Na unidade de cuidados intensivos, assisti a uma lamentável cena de um doente ligado a várias máquinas, que arrancou todos os fios a que estava ligado, porque queria ir embora…Primeiro foi um médico conversar com ele, dizer-lhe o risco que corria, com duas artérias obstruídas, que podia sair dali e morrer nas escadas…Debalde, então veio um segundo médico, dizendo-lhe praticamente a mesma coisa e às tantas perguntou-lhe se não tinha família, ao que ele respondeu: Em mim mando eu!?...Acabou por lhe dizer, que tudo bem, aquilo não era nenhuma prisão, mas tinha que assinar um termo de responsabilidade. Assinou e foi embora !...
De facto o que eu pensei é que há pessoas muito difíceis e que por vezes não são tratadas com mais atenções, porque na sua linguagem falta-lhes, o por favor, o obrigada, o desculpe…enfim a educação necessária, para serem tratados também com boa educação.
O meu marido já teve alta e dentro do possível retomarei este nosso convívio virtual. Agradeço a todos que se mostraram sensíveis a esta situação que vivi.
7 comentários:
"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida ."
Que tudo corra pelo melhor,sucesso na recuperação de seu marido.
Faça-me um favor:Sejam felizes.
Bom fds.
Beijinhos.
Oi Manu, que bom que teu marido está bem e tudo correu da melhor forma! essas coisas de saúde são muito preocupantes e nos tiram do sério...
quanto ao que tu dissestes sobre educação, ou melhor, a falta dela...isso é o que mais me incomoda nas pessoas, além da falta de caráter...hoje quase ninguém diz obrigada, por favor, sr, sra...falta educação em casa, no trabalho, no lidar com o outro...está impossível se conviver em sociedade...ainda bem que só tenho amigas/os bem educadas/os e corteses...se não não seriam meus maigos...
Grande beijo! saúde e paz A tu a aos teus!
Oiiiiiii Manu,
Problemas de saúde acabam com a gente!!! Mas ainda bem que as coisas estão se ajeitando pra você, não é? Que bom.
Quanto à educação, ops, a falta de, ah, isso é uma carência mundial. As coisas parecem que andam mesmo do avesso, lamentável! É uma grosseria generalizada, um desleixo total. Onde foi que a sociedade errou? Bobagem. A gente sabe muito bem que, no passado, deixamos de atacar em muitas frentes. Taí a colheita.
Beijo grande.
Hola Manuela, desexo que a saúde do teu home mellore canto antes.
Non sabe un o que hay polos hospitais hasta que lle toca andar por eles.
Certo que as instalacións melloraron, xa ia sendo hora, por que lémbrome de cando estiben eu, eramos cinco nunha habitación para catro,en camas de ferro.
Ademaís de iso os acompañantes tiñan que dormir no chan, e algunha bruxa de enfermeira ainda berraba.
Sobre o tema da educación, soio bou dicir unha cousa e é que brila pola sua ausencia.
Un biko.
NES
É muito reconfortante podermos ter a opinião, de quem viveu por dentro o drama da doença, sobre os nossos hospitais.
Logo eu que tenho horror aos hospitais, às seringas, aos tratamentos dolorosos, ao cheiro tão característico dos antisséticos.
Que o seu marido tenha recuperado por completo.
Olá, Manuela :)
Como tenho andado um pouco ausente, só hoje tomei nota destas suas notícias. Fico muito contente por si e marido, face à notícia de boas melhoras. Claro que aqui também se fazem amizades, e nessa base de sinceridade, pode contar comigo, se for útil para alguma coisa.
É muito bom conhecer o testemunho de quem passa pelos hospitais, pois é nessas alturas que nos deparamos com a realidade mais autêntica. Nada em matéria de saúde é simples, e se há profissionais de todos os tipos nessa área, também é certo que há muita falta de educação hoje em dia, neste caso, por parte dos utentes.
Votos de boas e rápidas melhoras para o marido. Um grande beijinho para si!
Ainda bem que tudo correu pelo melhor e já a temos de novo connosco.
Diz-se muito mals do SNS, mas a maioria das pessoas fala de cor. Felizmente ainda não precisei de recorrer a serviços hospitalares, mas familiares meus que o têm feito corroboram a sua opinião.
Aliás, ainda há dias foi notícia o facto de Horácio Roque, depois de ter tido um AVC, ter optado por ir para o Hospital de S. José.
Se os hospitais públicos fossem assim tão maus, um dos homens mais ricos de Portugal teria arriscado a experiência?
Abraço e boa semana
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