A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




quinta-feira, 6 de maio de 2010

HOJE LEMBREI-ME DE ALMADA NEGREIROS...

José Sobral de Almada Negreiros (Trindade, S. Tomé, 7 de Abril de 1893 — Lisboa, 15 de Junho de 1970) foi um artista multidisciplinar, pintor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista português ligado ao grupo modernista.Também foi um dos principais colaboradores da Revista Orpheu.
AUTO-RETRATO
MÃE! PASSA A TUA MÃO PELA MINHA CABEÇA!

Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar! Quando voltar, é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça! Quando passas a tua mão na minha cabeça, é tudo tão verdade!
(A Invenção do Dia Claro, de Almada Negreiros, INCM)

MATERNIDADE
DESENHAR UMA FLOR

Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas.
A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros, in “O Regresso ou o Homem Sentado – III parte”



DESENHO

12 comentários:

Unknown disse...

Esperança

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.
Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.

Almada Negreiros

Obs.Lembrou-se e muito bem.

Beijo.

Unknown disse...

Lindo... lindo... lindo o primeiro texto de Almada Negreiros.

"Mãe.. passa tua mão pela minha cabeça"


Ah... meu Deus! Que saudades de minha mãe!

Eu sempre fingia estar doente, quando pequena, só para sentir a mão dela em minha testa. Que saudade desse carinho!

Por falar em mãe, neste próximo domingo vai ser o Dia das Mães, no Brasil.

Um abraço do tamanho do oceano que nos separa.

Manuela Freitas disse...

Amigo Manuel,
Obrigada pelo poema de Almada Negreiros, que eu não conhecia. Pensando no título, presentemente, mais do que nunca, é preciso ter esperança!...
O Manuel tem um domínio sobre a Literatura excelente!
Um grande abraço,
Manú

Manuela Freitas disse...

Minha amiga Brasileira, vc é um mistério, não chego até si, mas já ando com uma certa desconfiança!...
Então a menina era uma «finjideira» para ter o carinho da sua mãe! Mas vale mesmo a pena, porque esse carinho é único!
Os seus beijos sabem nadar, têm chegado, espero que os meus também cheguem!
Manú

Dani Franken disse...

Que lindo, emocionante...
Beijos,
Dani

Unknown disse...

O primeiro texto é uma maravilha que nos encanta.
Dá vontade de continuar a ler ...

O segundo texto também é bom mas completamente diferente do anterior.

Sandra Gonçalves disse...

Quisera eu ter tido uma mãe para afagar meus cabelos.
Tudo lindo por aqui, Bjos querida!

Me disse...

Manu querida,
coisa linda demais este poema!
te abraço minha amiga!!!

jurisdrops disse...

Manuela:
Os dois textos conversam de uma forma tão cheia de harmonia, que a mão da mãe, pousada na cabeça do filho, transmitiu-lhe a doçura de percorrer as linhas cheias de pétalas para descobrir os caminhos das viagens vividas ou sonhadas.
Que lindo!
Beijos

MARCELO DALLA disse...

Que lindo, minha amiga!!!! Não conhecia esse artista, fiquei encantado. Foi procurar conhecer mais...

Sobre a mandala, fique à vontade, pode trazer o que quiser. Tem toda liberdade!!!!!
(Adorei tb o texto sobre feromonas... mas acho q as virtuais são psicológicas... rsrsrsrs)
bjo

Anónimo disse...

Lindo!
O primeiro poema dele,nos faz retornar à memória de nossa casa, o seio materno e esta ligaçaõ tão intensa dele com a mãe...

Obrigada!

Um beijo

Manuela Freitas disse...

Caros Amigos,
Os vossos comentários são «mimos» para mim. Sandra desculpa ter motivado recordações negativas.
Obrigada e um grande abraço,
Manuela