A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




sábado, 28 de novembro de 2009


Douglas, Tom e Charlie vinham a arfar pela rua sem sombra.— Tom, conta-me agora a verdade.— Mas qual verdade?— Que foi que aconteceu aos fins felizes?— Estão a dá-los nas matinées dos sábados.— Sim, mas e na vida?— Tudo o que sei é que me sinto bem ao ir para a cama à noite, Doug. É um fim feliz, uma vez ao dia. Na manhã seguinte, acordo e pode ser que as coisas corram mal. Mas basta-me lembrar-me de que à noite irei para a cama e que só por eu estar deitado um bocado tudo ficará bem.— Estou a falar do Sr. Forrester e da Sr.a Loomis.— Não podemos fazer nada; ela está morta.— Bem sei! Mas não achas que houve uma pessoa que cometeu um erro naquilo?— Queres dizer o facto de ele pensar que ela tinha a idade do retrato quando, na verdade, já tinha um milhão de milhões de anos? Não, senhor, acho que estava muito certo!— Muito certo porquê, que diabo?— Nestes últimos dias, o Sr. Forrester contou-me alguma coisa agora, alguma coisa depois e eu acabei por juntar tudo... eh rapaz, o que eu chorei... Nem mesmo sei porquê. Não ia modificar as coisas nem um bocadinho. Se as modificássemos, de que haveríamos nós de falar? De nada. E além disso eu gosto de chorar. Depois de chorar um bom pedaço, é como se fosse manhã outra vez, começo o dia novamente.— Agora já ouvi tudo.— Mas a gente não confessa que gosta de chorar. Ora nós choramos um bocado e logo tudo se compõe. Aí está o teu fim feliz. Ficas em condições de voltar cá para fora e andar outra vez por aí com os outros. E isso é o princípio de sabe-se lá o quê! De modo que agora o Sr. Forrester vai pensar em tudo muito bem e vai ver que não há outro remédio senão um bom choro para depois olhar à sua volta e perceber que é outra vez manhã mesmo que já sejam cinco horas da tarde.— Isso a mim não me parece um fim feliz.— Uma boa noite de sono ou dez minutos de choro ou uma boa dose de gelado de chocolate, ou as três coisas juntas, são bons remédios, Doug. Quem to diz é o Dr. Tom Spaulding.
(Ray Bradbury, in A Cidade Fantástica)

3 comentários:

Sylvia disse...

Manuela, apesar da distância física que temos, a considero uma amiga para todas as horas. Você sempre tem uma palavra amiga, centrada... fico feliz que esta blogosfera tenha me proporcionado conhecer uma pessoa como você!
Tenha um ótimo domingo!

G I L B E R T O disse...

Manuela

Fragmento surpreendente e... Extraordinário!

... Aliás, como tudo por aqui!

O encanto reside por aqui, minha amiga!

Amplexos e ósculos deste luso brasileiro que encantou-se por seu blog!

Paula Raposo disse...

E às vezes é assim mesmo!! Nem sempre. Só às vezes. Beijos.