A ESCURIDÃO NÃO PODE EXTINGUIR A ESCURIDÃO. SÓ A LUZ O PODE FAZER.»

MARTIN LUTHER KING




segunda-feira, 16 de novembro de 2009

HAIKAI

Haikai (俳句, Haiku ou Haicai) é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objectividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco letras japonesas, e sete letras na segunda linha. Em japonês, haiku são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto haiku em Língua Portuguesa geralmente aparecem em três linhas, em paralelo.
O principal haicaísta foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer desse tipo de poesia, uma prática espiritual.



Este caminho
Ninguém já o percorre,
Salvo o crepúsculo.

De que árvore florida
Chega? Não sei.
Mas é seu perfume.


O velho tanque -
Uma rã mergulha,barulho de água.





De Herberto Helder, tradutor de poesia de diversas culturas antigas:

Primeira neve:
Bastante para vergar as folhas
Dos junquilhos.

Festa das flores.
Acompanhando a mãe,
Uma criança cega.

Monte de Higashi.
Como o corpo
Sob um lençol.

Ah, o passado.
O tempo onde se acumularam
Os dias lentos.









Eugénio de Andrade, poeta que nunca se integrou em qualquer movimento literário específico, caracteriza-se pelo valor dado à palavra, à imagem, à musicalidade, aproximando-o, entre outros, do simbolismo de Camilo Pessanha. Tende a rejeitar os dualismos da cultura ocidental, representando o Homem como um ser integrado numa realidade colectiva. Surge por vezes a analogia entre as idades do homem e as estações do ano e, através de descrições ou evocações físicas, tenta versar a plenitude da vida, a pluralidade dos instantes. São muitos os poemas breves ou de versos curtos, aparentemente simples, mas de grande profundidade:

Tocar um corpo
e o ar
e a língua de neve.

Tocar a erva
mortal e verde
de cinco noites
e o mar.

Um corpo nu.
E as praias fustigadas
pelo sol e o olhar.






Albano Martins, tem-se distinguido particularmente no campo da poesia, do ensaio e da tradução. A sua obra poética caracteriza-se pelo encontro equilibrado entre a contenção (forma breve e linguagem depurada) e o poder imagético da palavra (suas inúmeras possibilidades associativas e metafóricas): “O ritmo / do universo/ cabe,/ inteiro,/ na pupila/ dum verso.” Em 1995, editou poesia haiku de sua autoria, sob o título “Com as flores do salgueiro – Homenagem a Bashô”. Aqui se transcrevem algumas composições:

Um pássaro
no ninho: uma gaiola
perfeita.

Crepúsculo. Gaivotas
em repouso velam
o cadáver do sol.

Uma concha bivalve:
borboleta do mar,
de asas fechadas.

Jogo de sedução
entre o vento e as folhas.
Prazer volátil.

Juncos em movimento.
Os cabelos da água
penteados pelo vento.

Borrão azul
na brancura da página:
o poema.

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Gosto muito de pequenos poemas. Beijos.

G I L B E R T O disse...

Ah! O passado
O tempo onde se acumularam
os dias lentos...

Maravilhoso isso, Manuela!

Grato!

Já tentei escrever Kaikai ou Kaiku, mas toda a minha obra resumiu-se a uma unica composição, já publicada em nel mezzo del cammim.

Não tenho na sintese a força do meu texto!

Abraços, mon ami!

Tudo por aqui sempre transpirando sensibilidade e, acima de tudo, inteligencia!

Dificil ver espaços que pingam e respingam inteligencia como este cá teu, mon ami!

Estejas bem nesta noite e em todas as demais!

Manuela Freitas disse...

Caros Amigos,
De facto aprecio o Haikai, considero que se podem trnsmitir ideias/pensamentos/sentimentos...muito importantes, de forma breve. Quando a poesia é longa pode-se ir perdendo, geralmente obriga a mais de uma leitura, duas ou três frases entram completamente. Isto até me faz lembrar publicidade/marketing, a força de um slogan, quando é bem feito. Não estou a excluir dos meus gostos a poesia longa, porque considero que esta tem a vantagem de criar um ambiente cativante, à medida que vai avançando com mais promenores.
Beijinhos,
Manuela

Ana Echabe disse...

Haikai
é uma das formas de poetizar das quais mais admiro, talvez pela minha inquietude da abstração na palavra e a contemplação dela própria, a palavra.
Poderia ser tbm a magia oriental em tudo, sempre havendo equilíbrio no encontro, com o impar... 3,5,7

Este eu desejava ter propriedade para construção.
Bjinhos Manu