Hoje, Dia Mundial do Livro, apeteceu-me escrever sobre este livro. «A Cabana do Pai Tomás», marcou no principio da minha adolescência, a minha concepção sobre o racismo. Confesso que chorei, o livro tinha esse propósito e nesses verdes anos o meu sentido critico era inexistente. Tomás era um santo pacífico e não propriamente um herói. O livro, «A Cabana do Pai Tomás», que primeiro foi rejeitado, foi publicado em 1852. Vendeu dez mil exemplares na primeira semana nos Estados Unidos e 300.000 exemplares no primeiro ano. Na Grã-Bretanha, no primeiro ano de edição, venderia um milhão e um segundo milhão nas suas várias traduções em diversos países.
Em 1861, nas vésperas da Guerra Civil Americana (1861-1865), a autora era a mais famosa escritora do mundo e o livro atingia uns fabulosos 4,5 milhões exemplares vendidos - um número tanto mais espantoso quanto muitos dos estados do Sul dos Estados Unidos o tinham proibido, quanto havia contra ele uma intensa campanha política e os cinco milhões de escravos que integravam os 32 milhões de americanos de então eram praticamente todos analfabetos. Havia um exemplar de «A Cabana do Pai Tomás» em cada família americana não militantemente esclavagista, o que o tornava o livro mais difundido depois da Bíblia, da qual era companheiro de estante frequente.
A seguir à Guerra Civil americana, da qual é apontado como uma das causas directas (a lenda diz que Abraham Lincoln, durante uma visita de Harriet Beecher Stowe à Casa Branca, em 1862, lhe terá chamado «a pequena senhora que fez esta grande guerra»), o livro foi caindo gradualmente no esquecimento e só voltaria ao primeiro plano após a Segunda Guerra Mundial, para conquistar um lugar cativo no panteão dos «grandes romances americanos».
«A Cabana do Pai Tomás», que acordou as consciências de tantos para a iniquidade da escravatura e que teve um papel tão relevante na libertação dos escravos nos Estados Unidos seria considerado, a partir dos anos 60 (por dirigentes do movimento pelos direitos cívicos e pela emancipação dos negros americanos), como uma obra racista e perpetuadora da submissão dos negros. A razão está antes de mais no seu protagonista, Pai Tomás, que é não um líder revoltoso, como quereria o movimento negro americano, mas um mártir, dócil e piedoso, que aceita todos os castigos como penitências e que perdoa a todos os seus inimigos. Tomás é um homem passivo, que recusa a violência como forma de resistência.
É evidente que esta passividade não podia merecer a aprovação política dos militantes, da mesma forma que os retratos de negros feitos por Harriet Beecher Stowe, com toda a sua benevolência, não podiam deixar de ser denunciados como paternalistas. Mas poucos livros se podem gabar de ter tido uma tal influência na vida de tantos milhões de pessoas.
2 comentários:
Óptima escolha.
Beijo.
Muito bem lembrado para ilustrar esse dia tão importante!
Não sabia de todos esses detalhes, muito menos do numero estrondoso de volumes vendidos!
Muito grata pela informação
Abraço,
Renata
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